10.3.10

à atenção de Fernando Pinto


Fernando Pinto (TAP): “Greves são do século passado”.

As greves podem até ser do século passado. Mas há que dizer, no mínimo, que a subsistência dessas mesmas greves acompanha a persistência de práticas empresariais (e sociais) retrógradas. Claro, há que julgar caso a caso, nem tudo é igual. Uma parte do problema é que, infelizmente, já só os privilegiados podem fazer greve; os que verdadeiramente deviam fazer greve estão demasiado fragilizados para isso. Se calhar, o que seria de esquerda seria proceder a uma redistribuição do direito à greve: condicionar o direito à greve dos privilegiados e melhorar o acesso efectivo dos trabalhadores em geral a essa forma de luta. É que só há verdadeira negociação com quem tem armas para lutar: negociar com desarmados é uma farsa. E farsas há muitas; verdadeiras negociações, poucas.


Para reflexão, repito-me:
Chama-se “greve de zelo” a uma prática de contestação laboral usada em certa altura em alguns países.
Numa greve de zelo os grevistas não se recusam a trabalhar: limitam-se a aplicar de forma estrita todas as regras formalizadas (escritas nos regulamentos) que enquadram a sua actividade. O resultado de uma greve de zelo não é que as coisas funcionam melhor: é a inoperância – porque faltam aquelas práticas que, fugindo à letra dos regulamentos, fazem funcionar as coisas. Por exemplo, quando um funcionário subalterno toma uma iniciativa sem autorização superior, porque essa iniciativa é necessária ao andamento dos trabalhos e o funcionário “sabe” que a autorização seria dada se o chefe estivesse presente. E faz isso apesar de, em rigor, arriscar uma sanção por avançar sem uma certa assinatura no papel apropriado. Uma greve de zelo é a aplicação sistemática e generalizada, numa empresa ou sector, de todas as regras, tomadas à letra.

Será o zelo também coisa do passado?