2.4.09

G20 e tal



Estou com os críticos que profetizam que nada de realmente novo resultará da cimeira, por nela apenas estar gente que quer remendar o sistema para salvar o sistema. Claro, as revoluções não são decididas por aqueles que seriam apeados pela própria revolução.
Por outro lado, não espero nada da generalidade dos críticos da esquerda académica, e estou certo de que eles não nos levarão mais longe do que os grandes das nações. Pela simples razão de que, também eles, estão a defender os seus privilégios. Os privilégios de uma intelectualidade que visiona outro mundo, mas com os pés bem metidos nas pantufas deste que temos.
Os verdadeiros revolucionários não vão aos manuais de ideologia ver se descobrem quem são os explorados. Vão às terras onde vivem compreender quem detém os privilégios e quem deles está afastado. E uma certa esquerda académica tem uma noção bastante curiosa de "privilégios". Por exemplo, custa-lhe a ver que a posse de um lugar num qualquer sector do aparelho do Estado, quando essa posse não dependa do real contributo dado pelo agente para a comunidade, mas apenas da anterior "aquisição" desse lugar - essa posse pode ser um privilégio. Pelo menos relativo. Ainda por exemplo, custa-lhe muitas vezes a ver que os sistemas de reformas e pensões não podem ser pensados apenas na óptica dos que se preparam para receber (os mais velhos), sob pena de fazermos com que a prazo esses sistemas não tenham resposta para os mais novos (porque pode já ter secado a fonte quando chegar a vez deles). E como não vêem isso continuam a demagogia das reivindicações assentes no princípio cosmológico de que o dinheiro cai do céu. Quando não cai, imagine-se. Ora, hoje em dia, uma parte importante da esquerda académica está enredada nas cegueiras desses novos privilégios, por táctica política as mais das vezes.
Entretanto, os verdadeiros deserdados do mundo são outros e andam por outras guerras. Guerras que não interessam muito a uma certa esquerda académica. Por exemplo, o micro-crédito, que tanta importância prática tem para tantos dos verdadeiramente pobres nos países realmente pobres, não parece ser um tema de grande interesse para muita dessa esquerda: talvez por crédito cheirar a "banco" e "banco" cheirar a capitalismo e isso não colar bem com o discurso primário anti-bancos. E lembramo-nos também de outros temas da "velha esquerda", que não parecem nada convenientes para a nova vaga: cooperativismo, autogestão, ... Porquê: porque a ideia que têm é que dá pouco resultado tentar recrutar "revolucionários" na base da ideia quase religiosa da "entrega ao outro".
A esquerda académica não fará a revolução de pantufas, certamente. Uma outra questão será: farão a revolução os que partem vidraças e se exibem destruindo mobiliário bancário em manifestações mediáticas?

[Líderes mundiais já estão reunidos no Excel Centre para a cimeira do G20.]