18.4.09

a corrupção da luta contra a corrupção


Enriquecimento ilícito: BE rejeita lei que obrigue prevaricador a repartir bens com o Estado.

Numa coisa o BE tem razão: numa matéria que ataca os fundamentos do Estado democrático e da decência pública, como é o caso da corrupção, não pode haver tibieza, nem contemplações, nem meias palavras e meias acções. Já outros o disseram há muito, também dentro do PS, mas não foram suficientemente escutados, no que constituiu claramente um erro de apreciação política desta direcção do PS.
Contudo, noutra coisa o BE e Louçã não têm razão: nos assuntos da seriedade deste não se pode ceder à tentação da superioridade moral, assumindo a postura de consciência de tudo e de todos e, mais grave, tentando usar essa postura moral para impedir a serena apreciação das soluções possíveis. Dar uma solução ao problema da corrupção não é apenas uma questão de vontade, é uma questão de inteligência: encontrar as formas de fazer. Sem atropelar os direitos e liberdades, sem estender a mão dos poderes mais do que o necessário, sem meter tudo no mesmo saco, percebendo exactamente quais os mecanismos que estão em causa. Só assim se pode, ao mesmo tempo que se preserva a legitimidade da acção, conseguir um grau de eficácia compensador na caça aos prevaricadores. E isso só se pode conseguir contando com os contributos de todas as forças políticas interessadas em enfrentar o problema. Sem a demagogia de que só nós somos honestos, só nós sabemos o que fazer. Alargando a frente anti-corrupção e não a rebaixando a uma mera luta imediata por mais uns votos. Sem o espectáculo da rectidão, da certeza dos iluminados, dos justiceiros de capa e espada - sem as taras da "moral revolucionária". Tudo coisas que parecem continuar a impedir Louçã de distinguir o essencial do acessório, na arrogância dos que anunciam que não vieram ao mundo para negociar.