23.10.08

planos da pólvora, receitas culinárias



(Clicar, aumentar. Cartoon de Marc S.)


Os projectos grandiosos não estão condenados a ter sucesso...
Ele é o primeiro plano americano, o segundo plano americano, o plano dos europeus, o plano dos alemães, o dos ingleses, o dos espanhóis, o de Portugal, ele é a revolução por decreto para ontem que se faz tarde, a "moralidade" agora de repente a todo o vapor, ele é ai jesus a economia real, e as pequenas e médias empresas, e as famílias (qualquer dia "as pequenas e médias famílias", que em Portugal serão as micro, como as nossas PME), e os aforradores, e os anjos do céu aflitos com os créditos de santidade ao cuidado do cardeal prefeito da congregação da causa dos santos, e o cardeal aflito com o preço da púrpura...
Agora de repente lembramo-nos de tudo. E queremos o céu já. Por decreto. Por portaria. Por despacho normativo. Para todos. E a saldo - porque é um céu que se vende, pode ser saldado.
E que tal pensar a sério num mundo iníquo cujos mandantes até agora assobiavam para o ar?

[Contudo, há uma coisa ou outra que obedece aos comandos da máquina. Molemente. Até ver. Euribor a seis meses baixa dos cinco por cento. Enquanto outros esperam que seja agora a hora da vingança das suas revoluções eternamente falhadas: por exemplo, embarcando no discurso da diabolização do sistema financeiro. Dias incómodos estes, para um social-democrata como eu, tentado pela utopia, tentado pelo cepticismo, mas muito desconfiado dos profetas (tanto como dos anti-profetas). E afinal apenas interessado nos de cá de baixo.]

[Novo acrescento. Parece haver uma lei da proporção inversa entre a responsabilidade dos políticos com visão, que dizem e fazem o que deve ser dito e feito quando não é essa a corrente, e a capacidade para produzir palavras convenientes montadas no que todos os demais papagueiam. Durão Barroso, apelou hoje, em Pequim, ao estabelecimento de uma "nova ordem financeira internacional". Isso é quando os planos da pólvora são receitas de culinária. Cozinhar mais um mandato em que o presidente da Comissão Europeia, em vez de se assumir como o líder do órgão que tem a responsabilidade pela iniciativa, está sempre cativo das delicadezas de todos, especialmente dos grandes.]