1.10.08

ler a crise


João Rodrigues, artigo no Jornal de Negócios Online, intitulado Lições da crise: A história não acabou.


Para estimular a leitura integral, duas citações:

«Um dado ilustra a conjugação de medíocre crescimento dos rendimentos e de injustiça social, indissociáveis da configuração de capitalismo sob hegemonia da finança de mercado que emergiu nos EUA, a golpes de política, a partir dos anos setenta: entre 1947 e 1973, época de consenso keynesiano, de contra-poderes sindicais fortes e de mercados muito mais limitados e politicamente enquadrados, o rendimento das famílias mais pobres (20% da população) cresceu, em termos reais, aproximadamente 116,1% e o rendimento das famílias mais ricas (20% da população) cresceu 84,8%; entre 1974 e 2004, na chamada "Era de Milton Friedman", esse crescimento foi, respectivamente, de 2,8% e de 63,6% (Robert Reich, Supercapitalism, Cambridge, Icon Books, 2008, p. 106).»


«Os incentivos dirigidos para os gestores de topo, que fizeram explodir as desigualdades salariais, e que se revelaram agora tão perversos no sector financeiro, inscreveram a cobiça e a miopia no centro do sistema económico. A confiança e a moralidade, dois activos intangíveis fundamentais, são permanentemente acossadas pelas actuais estruturas económicas que impõem uma pressão concorrencial intensa. Na esfera financeira, esta inevitavelmente gera um aventureirismo cíclico que alimenta posições crescentemente especulativas, oleadas por uma inovação financeira sem controlo. A sua complexidade resume-se à criação de poderosos mecanismos de alavancagem e a uma ilusória dispersão do risco. O risco sistémico nunca desaparece, bem pelo contrário.»

O autor escreve regularmente em Ladrões de Bicicletas. Se eu concordo com tudo? Não. Especialmente quando toca às soluções alternativas. Mas a crítica informada é saudável. A ver se conseguimos continuar a pensar.

[Estes aqui deviam ler estas coisas: Senado dos EUA vota esta noite plano de 700 mil milhões para salvar o sistema financeiro.]