14.10.08

de quem é esta crise?

Bolsas europeias continuam optimistas com plano europeu para salvar sector bancário.


Eu, como sou tímido, espanto-me frequentemente com o descaramento de certas pessoas. Isso acontece de novo a propósito desta crise de uma forma particular de capitalismo em que a alavanca é o financeiro-virtual.
É que, entre aqueles que sempre estiveram contra a presença do Estado na economia, que sempre pediram mais desregulação, que defendiam que "o mercado é que sabe", que muitas vezes equacionavam desregulação com democracia - é precisamente entre esses que agora nasce a nova flor do cardo. Dizem eles: quem falhou foi o Estado, não foram as empresas, os bancos, o mercado. Foi o Estado que falhou, porque não fez o que devia. Têm uma certa razão: mas não no sentido que tentam dar-nos a engolir.

Realmente, esta é uma crise política, não é uma "crise comercial". Esta é a crise dos Estados que foram capturados pela ideologia de que o capital é a seiva e a alma das comunidades humanas. Aqueles que pugnaram por essa captura, e que ainda há dias pediam mais desregulação, vêm agora dizer que foi o Estado que falhou. Sim, falhou por lhes ter dado ouvidos. Mas bastava a esses "desreguladores" terem um módico de honestidade intelectual para não virem agora com essa conversa: isso é o autor moral do crime a apontar o dedo ao autor material do mesmo crime.