21.10.08

atribuições sociais


Em meados dos anos 1940, Fritz Heider e Mary-Ann Simmel (*) mostraram um filme de animação (reproduzido abaixo) a uma série de pessoas e pediram-lhes para descreverem o que viam.





A maior parte dos observadores elaborou teorias acerca do círculo e do pequeno triângulo estarem apaixonados, acerca do triângulo grande que era mau e tentava correr com o círculo, acerca do triângulo que deu luta e permitiu ao seu amado círculo refugiar-se na casa, ...
Esta experiência é pioneira em chamar a atenção para o facto de as pessoas tenderem a usar descrições de comportamentos de interacção recorrendo aos termos que correspondem às nossas interpretações do comportamento social. A nossa capacidade para atribuir estados mentais àqueles com quem interagimos é tão importante na gestão das nossas relações, e fazer isso está de tal modo enraizado nos níveis mais fundamentais do controlo não deliberativo do nosso comportamento, que mesmo para descrever entidades que sabemos perfeitamente que não têm estados psicológicos (como as formas geométricas do filme) usamos termos que remetem para essas atribuições de estados mentais. Isso deve-se também à expectativa de que assim comunicamos melhor a nossa descrição a outras pessoas que dispõem do mesmo mecanismo interpretativo que nós.
Outra maneira de encarar esta questão é dizer que esta experiência demonstra que nós não vemos só aquilo que vemos. Também vemos o que nós próprios colocamos em cena.
Naquilo a que costumo chamar "ciências do artificial", este mecanismo pode ser explorado para darmos nós às máquinas aquilo que elas não têm: nós vemos o que queremos ver, mesmo que elas o não exibam.
Abaixo, outra animação que "brinca" com esta questão.





Noutra ocasião complementaremos esta nota com uma apresentação breve da teoria de Dennett acerca da postura intencional.

REFERÊNCIA:
(*)F. Heider and M. Simmel. "An experimental study of apparent behaviour". American Journal of Psychology, 57, pp. 243–259, 1944.