MONUMENTA 2008, no espaço Promenade do Grand Palais, Paris, entre 7 de Maio e 15 de Junho deste ano. Visita in extremis, na véspera do fim. (Explicação do conceito aqui.)
Esta edição apresenta um trabalho de Richard Serra.
O próprio autor apresenta um paralelo que, para mim, dá uma chave de leitura desta sua obra que me basta. É o paralelo com o jardim zen, em que o nosso ponto de visão do jardim é que dá a leitura do jardim como paisagem múltipla e em devir.
O que vemos a seguir é o jardim zen do templo Ryoan-ji (Quioto, Japão). Jardim de paisagem seca radical. Trata-se de uma composição de quinze rochas rodeadas de pequenas áreas de musgo e uma grande superfície de gravilha penteada, tudo cercado por muros, dentro dos quais não existe qualquer outra vegetação. É um exemplo cimeiro do jardim kare-sansui, jardim seco em que as rochas e a gravilha penteada simbolizam água ou elementos paisagísticos.
(Foto de Porfírio Silva. Novembro de 2005. Clicar para aumentar.)
Temos aqui a planta desse jardim. Aqui se percebe como a composição foi concebida para que nunca se consigam ver ao mesmo tempo todas as quinze rochas, qualquer que seja o ponto de observação escolhido.
Com estes elementos podemos ver a escultura-paisagem-jardim de Serra como uma proposta paralela ao jardim zen, no sentido em que fazemos diversas leituras do que lá está procurando diferentes posicionamentos e experimentando as mudanças no espaço e no tempo que resultam desses diferentes posicionamentos.
(Foto de Porfírio Silva. Junho de 2008. Clicar para aumentar.)
O que, enquanto conjunto de objectos fixos ao solo, parece ter pouco de desafio - ganha outra dinâmica quando nos pomos a experimentar o que muda pelo simples efeito do nosso andarilhar.
(Foto de Porfírio Silva. Junho de 2008. Clicar para aumentar.)
Imagine o que consegue obter deambulando neste espaço. E assim tem o seu jardim-zen de ferro, pois.
Mas talvez com a falta de um elemento: o silêncio.
(Mais sobre jardins zen, e outros jardins japoneses, em Jardins Metafísicos.)