A intoxicação da opinião pública com a colaboração, acordada ou a dormir, dos órgãos de comunicação social, serve frequentemente interesses muito específicos em certos negócios. Exemplo: quando o Comendador Berardo andava a tentar colocar a sua colecção de arte a recato, com os menores custos e nas melhores condições possíveis, entrou em negociações com o Estado. E entrou de braço dado com um poderoso aliado: a comunicação social, meio onde pululam os amantes da arte. Desse modo exerceu-se uma pressão complementar sobre a parte que tinha a seu cargo defender o interesse público (o Estado) com a ameaça de uma enorme escandaleira política se a colecção não ficasse em Portugal. Claro que eu concordo que era desejável que a colecção ficasse em Portugal, como ficou. Só que, colocando toda a responsabilidade por esse eventual desfecho nos ombros do Estado, favoreceu-se a parte privada, que assim foi capaz de subir a parada para condições que talvez o futuro venha a demonstrar que não são as melhores para o património público. Todos aqueles que foram parte nesse alvoroço acabaram por prejudicar o bem da comunidade e favorecer os interesses de um determinado empresário.
De uma forma ou de outra, pretensas motivações políticas podem, afinal, ter motivações económicas e grandes "tiradas democráticas" podem representar apenas jogadas empresariais para obter ilegitimamente negócios em condições que o mercado não ditaria. Será de excluir que a actual agitação em torno de negócios com empresas de comunicação, debaixo do papão da ameaça à liberdade de imprensa, não passe de uma manobra empresarial para afastar concorrentes e limpar o terreno?
É uma pergunta que se deixa.
É fazer as contas. E a seu tempo chamar os bois pelos nomes.
TPC: Ler Balsemão tem razões que a razão desconhece.