3.11.11

a zebra é branca com riscas pretas ou preta com riscas brancas?


O jornal «Avante!», órgão central do Partido Comunista Português, publica um texto de opinião, já de si delirante (defende que o estado do mundo actual resulta de uma conspiração entre a Santa Sé, a Maçonaria, o Pentágono e Wall Street), mas com o adorno de uma pérola particularmente perversa: dá como verdadeiros os Protocolos dos Sábios de Sião, uma das falcatruas com mais pesadas consequências da história recente do ocidente. Quem nunca tenha ouvido falar, se não quer ficar na triste situação de Jorge Messias (o autor do disparate recente, que não dos Protocolos), pode ler com calma o que aqui se escreve. Que isto aconteça parece uma conspiração contra o Partido Comunista, directa (ligar "o" Partido a uma estupidez criminosa) ou indirecta (ressuscitar as tendências anti-judaicas que já tiveram o seu papel no campo comunista). Assim sendo, parecia razoável que se esperasse por uma posição de Jerónimo de Sousa a atirar tal disparate para o caixote do lixo, colocando o PCP no nível de dignidade que ele merece, independentemente de quaisquer discordâncias políticas (que, no meu caso, são inúmeras, evidentemente). É a esperança que se revela, por exemplo, neste post.
Só que, afinal, Jerónimo de Sousa não ficou aborrecido por o jornal oficial do seu Partido publicar tamanha asneirada. Jerónimo de Sousa ficou amofinado, isso sim, por as pessoas não gostarem de tão detestável texto, que, além de ser uma nulidade teórica, dá objectivamente a mão a uma falsificação monstruosa. A política portuguesa está de rastos e a superioridade moral dos comunistas deixou de ser um mito: agora é uma comédia.
Jerónimo de Sousa podia, ao menos, se lhe custa a compreender a gravidade de estar assim a virar o bico ao prego, ler a famosa novela gráfica de Will Eisner, publicada em português pela Gradiva, sob o título “A Conspiração – A História Secreta dos Protocolos dos Sábios de Sião” (ver aqui um comentário). Depois oferecia o seu exemplar a Jorge Messias, para ele ler no comboio para a Sibéria. (Sibéria? Pena, já não se usa para programas de novas oportunidades.)