«Que espertos foram os carneiros selvagens ao adquirirem essa adaptação extremamente versátil, o pastor! Ao formar uma aliança simbiótica com o Homo sapiens, os carneiros puderam fazer uma contratação externa das suas principais tarefas de sobrevivência: encontrar alimentos e evitar predadores. Até obtiveram abrigo e cuidados médicos de emergência como bónus. O preço que pagaram – perder a liberdade de seleccionar com quem acasalar e serem abatidos, em vez de mortos por predadores (se é que pode chamar-se-lhe um custo) – era uma pechincha, comparado com o ganho em sobrevivência dos descendentes que lhes granjeou. Mas, evidentemente, não foi a sua esperteza que explica o bom negócio. Foi a esperteza cega e nada visionária da Mãe Natureza, a evolução, que ratificou a base racional descomprometida deste negócio. Os carneiros e outros animais domesticados são, de facto, significativamente mais estúpidos do que os seus parentes selvagens – porque podem sê-lo. Os seus cérebros são mais pequenos (relativamente ao peso e tamanho do corpo), o que não se deve exclusivamente ao facto de terem sido criados pela sua massa muscular (carne).»
Daniel Dennett, Quebrar o Feitiço: A Religião como Fenómeno Natural, Lisboa, Esfera do Caos, 2008 (p. 144)