25.11.11

Portugal não é a Síria.


Do que vi acerca do dia de ontem, dia de greve geral, há dois factos que julgo extremamente preocupantes.

Primeiro, novos distúrbios frente ao parlamento, com uns "indignados" a pensar que a liberdade é um oceano sem margens e que os direitos deles são os únicos direitos à face da Terra. Além do mais, estes "indignados" servem magnificamente o propósito de desmobilizar a "gente normal", sendo que a "gente normal" sempre foi desprezada pelo radicalismo, estando aí uma das razões para o radicalismo nunca ter chegado a lado nenhum. Ouço dizer que estes "indignados" são precários qualificados, mas duvido dessas qualificações quando vejo na TV alguns exaltados a fornecer justificações de inteligência zero para os seus intentos, como aquela jovem que fala da invasão da escadaria como uma tentativa de chegar mais perto do órgão de representação popular. Quão mais perto querem chegar; querem sentar-se ao colo dos deputados para lhes explicarem palavra por palavra a sua indignação? Quanto mais esta "indignação" se tornar um circo, mais ela será, civicamente, uma fraude.

Segundo, aparecem relatos de agressões que teriam envolvido polícias à paisana a malhar duramente em jovens envolvidos nas manifestações mais ou menos inorgânicas (mas estando os jovens já fora das manifestações). A Shyznogud publica um desses relatos em vídeo. Sem querer precipitar-me, porque o vídeo não é evidente sem enquadramento, e porque não ouvi nenhuma tentativa de explicação alternativa, parece haver qualquer coisa de muito estranho. Designadamente, no vídeo é notório que um dos agressores, quando chega a polícia fardada, deixa tranquilamente o seu afazer de espancar, descobre a cabeça e permanece no local, observando, como se estivesse à espera que os polícias fardados limpassem o chão da porcaria que ele tinha estado a fazer. Estaria entre colegas? O vídeo é suficientemente explícito para permitir essa averiguação. E essa averiguação tem de ser feita. Se isto ficar impune, sem investigação transparente e sem consequências, deixamos de nos comparar com a Grécia para nos compararmos com a Síria. Sim, não temamos as palavras: se os aparelhos do Estado forem usados para reprimir, pelo uso ilegal da violência, cidadãos apanhados na rua e "justiçados" de improviso, estaremos no método sírio. E não vamos ficar à espera que chegue a nossa vez para começarmos a agir contra essa concepção totalitária de segurança e ordem pública. Ou vamos?

Do dia de ontem ficam-me estas duas preocupações profundas acerca da nossa vida pública. Espero a resposta desta democracia a estas duas situações. Ou vamos deixar andar até todo o país se tornar uma imensa Madeira jardinista? É que foi a complacência com o desmando que produziu o monstro da Madeira. Estamos cientes do perigo?