27.11.11

tristeza e alegria na vida das girafas.



Teatro. Desculpem, já acabou. Eu queria ter ido ver a tempo de vos dar conta. Mas não, em Lisboa já não é possível, acabou ontem. Escrevo, contudo, porque este não é um blogue só de Lisboa e há mais mundo para além desta aldeia. Abaixo falamos disso.

"Tristeza e Alegria na Vida das Girafas", de Tiago Rodrigues, usa um esquema clássico para falar do aqui e agora que é sempre mais largo: uma menina de 9 anos anda pelo mundo (por Lisboa) à procura de uma solução para o seu problema e vê e compreende coisas que são os nossos problemas, assim nos permitindo olhar para nós, aqui e agora, com grande crueza, mas também com uma gargalhada, que isto é preciso muito estômago para olhar para as nossas misérias. O que acontece àquela menina começa num trabalho escolar que ela tem de fazer, mas entronca numa série de chatices que nós temos de resolver. E que são tão pequenas que até chateia - mas são nossas e têm uma importância que salta fora do teatro. Que a menina, afinal, só queira o Discovery Channel a funcionar, parece risível; mas, se isso lhe falta porque já não há mãe e o pai está desempregado, o caso baralha-se. Tem sido escrito, e os próprios envolvidos no espectáculo parecem achar que isso ajuda à publicidade e à bilheteira, que a menina anda por Lisboa à procura da única pessoa que pode ajudá-la: o primeiro ministro Pedro Passos Coelho. Mas o texto é muito menos simples do que isso, se lhe quisermos dar ouvidos. Vale a pena dar-lhe ouvidos, porque este espectáculo de teatro é muito sério e diz coisas pertinentes em várias direcções, mesmo que esteja - precisamente por estar - sempre a cravar-nos as unhas do riso na garganta.
Além do texto, estão muito bem os actores. Principalmente os que jogam o par de personagens que constituem o mundo da menina. Carla Galvão, que faz a menina, produz um equilíbrio muito sólido entre os seus 9 anos e a sua maturidade intelectual precoce, resolvendo um ponto que, de outro modo, arriscaria tornar-se ridículo (ainda por cima quando a actriz, obviamente, não tem 9 anos). Extraordinário, extraordinário mesmo, está Tonán Quito, no papel do urso de peluche que a menina chama Judy Garland mas que queria chamar-se Tchekhov ou Spartacus (ou mesmo Spartacus Tchekhov), a quem cabe o lado mais voador (e transgressivo) da menina (o que o urso de peluche diz, só o diz à menina, só o diz a menina, claro).

E, para terminar, uma boa notícia selectiva. Alô, Coimbra: apresentações, a 19, 20 e 21 de Janeiro de 2012, no Teatro Académico Gil Vicente. Depois não digam que eu não sou amigo.