Seguro prepara alternativas ao OE para reunião animada. Comissão política do PS encontra-se hoje.
Ninguém é líder antes de o ser. Um líder só se mostra quando a dificuldade é suficientemente grande para deixar ver a diferença que faz o valor. O PS está agora numa posição suficientemente difícil para precisar de um líder. Os cidadãos em geral não saberemos hoje se o PS tem líder ou não, mas os membros da cúpula desse partido saberão: bastará ver o que Seguro tem para propor. Hoje, para Seguro, não bastarão as palavrinhas mansas com que costuma passar por entre as gotas da chuva.
A meu ver, que estou na cómoda posição de não me caber propor nem decidir, o PS tem um caminho estreito. Por um lado, o PS não pode agora ter o comportamento irresponsável que teve o PSD quando na oposição: fazer que sim e que não com a cabeça em dias alternativos, para queimar o governo sem perceber que ao mesmo tempo queimava o país. É que o Memorando de Entendimento, por muito mau que seja, não pode ser para os nossos credores o meio de prova de que somos incapazes de honrar a palavra dada. Nem, por outro lado, pode o PS partilhar a responsabilidade pelo feroz ataque ideológico que este PSD, nisso mais radical que o CDS, quer fazer a suportes básicos da nossa vida em comum, aproveitando a desculpa do Memorando para impor uma agenda que, de outro modo, seria simplesmente vista como pornográfica.
O ponto é que esta equação não se pode resolver apenas pelas etiquetas "abstenção" ou "contra", como sentido de voto do PS no Orçamento. Parece-me essencial que o PS faça compreender que a sua posição vai realmente depender do conteúdo do Orçamento e da capacidade da maioria para descartar os seus planos mais tenebrosos. O PS tem de definir muito bem quem e o quê quer defender nesta batalha e, em consequência, colocar na mesa propostas alternativas, compreensíveis pelas pessoas comuns como capazes de atingir os mesmos (ou melhores) objectivos por outros meios. Deve, concomitantemente, fixar os critérios que definirão o sentido de voto dos socialistas e ganhar a batalha da credibilidade das suas propostas. A porta é estreita, mas a única possível para os socialistas. Se Seguro já tiver desistido do insane projecto de fazer de conta que nunca conheceu José Sócrates, esta porta estreita permitirá ao PS avançar sem renegar o passado, mas também sem ficar cativo da herança.
Estamos quase a saber se Seguro é um líder. Só o será se mostrar, neste momento difícil, que não confunde política com politiquice - e que não tenta arredondar os cantos com mansidão que ninguém percebe o que quer dizer.