Dói ver que as pessoas tendem a tolerar mecanismos de destruição da nossa vida colectiva quando, no momento, o rato nas patas do gato pertence a outra tribo.
A novela Duarte Lima tresanda a mais uma sessão de desprezo organizado pelos direitos dos cidadãos, coisa de que já sofreram "personalidades" de diversos quadrantes e ocupações. Não falo de o julgar, se há coisa que deva ser julgada. Falo da "oportunidade tropical" das buscas, do aviso antecipado aos fazedores de imagens, se calhar do aviso antecipado ao interessado, falo da condenação antes da condenação, com a parafernália do costume a parasitar o espaço público e a tomar o espaço das coisas sérias que aí devem ser discutidas.
Esse circo judicial-mediático, aliás, casa bem com a impunidade que o mesmo sistema serve, por outras vias, a outras tantas figuras. Às vezes às mesmas, eventualmente noutro ponto do espaço-tempo.
E uma parte das tribos políticas, que vemos em acção na blogosfera, nas caixas de comentários dos jornais em linha ou nas "redes sociais", rebolam-se de gozo com o circo, esfaimadas por pólvora para as armas desta guerra civil em banho-maria que consome o país.
Até ao próximo turno, quando a vítima não for o amigo de Cavaco, mas for o amigo de Sócrates ou de outro qualquer. É assim, por turnos, que se cava a cova onde os leões, esfaimados e escondidos nos interstícios do Estado que era para ser de direito, comem o seu bocado e preparam o próximo assalto. A próxima orgia.
Cair nesta esparrela, uma espécie de vício nacional, é degradante. E perigoso. Pagar-se-á.