Terminei o dia de ontem, dia de greve geral em Portugal, na Cinemateca Nacional. Está lá a decorrer o Ciclo «“SOLIDARIEDADE” – 30 ANOS», com cinematografia directamente marcada pela história recente da Polónia. Ontem foi "O Homem de Ferro", de Andrzej Wajda, realizado em 1981.
Realizado no auge da agitação política que se seguiu à fundação de Solidariedade, O HOMEM DE FERRO foi lançado apenas seis meses antes da proclamação da lei marcial. É um filme verdadeiramente político, situado no presente, em que um jornalista de televisão recebe a missão de denegrir os grevistas do estaleiro naval de Gdansk, onde nasceu Solidariedade. Wajda insere imagens de arquivo dos acontecimentos políticos de 1968 (quando a Polónia foi varrida por uma onda de purgas políticas, com forte conotação anti-semita) e 1970, ano de uma grande greve nos estaleiros de Gdansk, duramente reprimida (dezenas de operários foram mortos).Lembro-me de quando, entre nós, mesmo na chamada esquerda democrática, a causa da oposição ao regime polaco, uma oposição ao mesmo tempo operária e intelectual, política e religiosa, heterogénea, era uma causa pouco apoiada pelos que estão sempre a navegar nos temas dominantes da política do momento. Em Portugal, mexendo-se por essas causas, havia uns poucos socialistas, que se encontravam numas sessões obscuras lado a lado com algumas espécies de trotskistas e outros minoritários, enquanto uma parte importante da "esquerda oficial" apostava que nada daquilo iria dar em nada.