31.12.10

a luz dos olhos teus


Estou de luto.
E não sei rezar. Nem quero, além do mais.
É uma merda, essa é que é essa.
O olho do homem quebrou-se.
E a impotência face à fragilidade é o pão nosso de cada dia.
Não acredito no destino, não praguejo contra os deuses, mas acredito que a porra da genética e um bocado de azar fazem pão amargo.
Não, não morreu ninguém. Quer dizer, este desabafo não é sobre uma morte. Mas morremos um pouco cada vez que sentimos as mãos atadas. E nem sequer se aplica aqui uma consideração sobre a injustiça, porque a injustiça é a má distribuição da justiça e, aqui, não há nada disso: apenas o mundo que gira, os animais (humanos) que são mais difíceis de reparar que os carros de brinquedo (mesmo que sejam de bombeiros de brincar), e uma pontaria excessiva que a vida nos faz aos tomates.
É uma gaita.
Claro que vos desejo um bom 2011. Por que não haveria de o desejar? Não tenho ódios, apesar de às vezes ter lamentos.

























Uma luz sobre um pormenor de uma tinta-da-china de Adriana Molder.
(Foto de Porfírio Silva)