28.12.09

uma decisão à altura de Cavaco


Cavaco promulgou diploma do Parlamento que adia entrada em vigor do Código Contributivo.

Decisão de Cavaco adia combate à fraude. PS: Presidente da República "caucionou" objectivos da oposição.


O PR é livre de manifestar, por actos próprios da sua função, por que linhas se cose. Acaba de o mostrar mais uma vez, abençoando a coligação negativa contra o governo pelo qual, supostamente, é constitucionalmente co-responsável. Mas, como não podia deixar de ser para honrar o estilo de Cavaco Silva, fá-lo com grande hipocrisia política. E mesmo cobardia. Justificar a promulgação com a afirmação de que o governo sempre pode retomar a iniciativa é chover no molhado. («A promulgação do presente diploma não impede o Governo de relançar, logo que considere oportuno, a discussão em torno do Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social, introduzindo os aperfeiçoamentos que considere adequados e abrindo um espaço de discussão aprofundada com os parceiros sociais e com os partidos políticos representados na Assembleia da República»). Claro que nada impede o governo de tentar outra vez. Mas a vida não anda com o mero tentar sempre outra vez. Se o PR queria um governo que assumisse funções só para desfazer o que se fez na legislatura anterior, deveria ter assumido a responsabilidade desse programa e devia ter procurado outra solução governativa. Mas Cavaco não era homem para assumir à luz do dia essa agenda.
Muito menos é grande método para avançar o método dos ziguezagues - quando o tempo perdido é precisamente obra de quem dá conselhos para recuperar o atraso. («Na nota justificativa referente à promulgação do diploma do Parlamento que adia a entrada em vigor do Código Contributivo, o Presidente da República defendeu que esta decisão continua a permitir ao Governo introduzir "aperfeiçoamentos" e medidas de compensação financeira em sede de Orçamento.»)
Cavaco elevou à altura da suprema magistratura da nação o mais puro exercício da hipocrisia política e da cobardia. Sempre valia mais assumir a sua agenda de primeiro desestabilizador, mas para isso teria de mudar de natureza. Certamente, este teatro continuará até se apresentar às próximas presidenciais como "presidente de todos os portugueses". Só se for por achar que "os outros" já não merecem ser portugueses...