Vamos supor que as palavras dos líderes da católica apostólica romana igreja, a começar pelo bispo de Roma, são ouvidas pelos que se consideram parte dessa igreja, ou seus seguidores. Vamos supor que isso implica que essas palavras influenciam o comportamento desses seguidores. Vamos supor que, por isso (por causa da orientação oficial da romana instituição), há um número significativo de pessoas que abominam o uso de preservativo e que um subconjunto dessas passa por situações em que, não usando preservativo, contraem doenças que de outro modo podiam ser evitadas. Não estou a dar nada disto por certo, estou apenas a conjecturar um nexo entre o facto de certas pessoas darem voz a certas posições e o facto de esses ouvintes atentos e conformes adoptarem certos comportamentos com certas consequências. Seria razoável determinar um grau de responsabilidade pela contracção de tais doenças, responsabilidade associada à expressão de ideias que influenciam o comportamento dos outros. No caso concreto, muitos fazem essa acusação aos hierarcas da católica igreja. Uma forma simples, mas correcta, de dizer isto é: certas ideias matam.
O meu ponto aqui é a extensão desse fenómeno: que a expressão de certas ideias seja responsável por certos comportamentos em sociedade e pelos custos que eles acarretam para essa mesma sociedade, tanto os custos inscritos nas contas dos autores como os inscritos nas contas dos que indirectamente pagam as favas.
O nosso país continua a pagar as favas da indigência que uma densa cortina de expressão e ampliação de opiniões lança sobre o país, sem que seja possível criar a consciência de como essas opiniões matam. O país tem reais problemas: pessoas e organizações pouco qualificadas, desigualdades injustificadas por não corresponderem ao diferencial de contributo que cada um dá à comunidade, um Estado que continua a não constituir um garante de aspectos essenciais do “bem comum” básico que não podem depender do sucesso económico das pessoas ou do interesse mercantil das actividades. Continuamos a ser pobres, como país. Mas as ideias que ocupam o “espaço público” são completamente orientadas para evitar que se façam os verdadeiros debates – e são usadas para “fazer política por outros meios”. Já não é a guerra que é a continuação da política por outros meios, nem a política a continuação da guerra por outros meios. A dissolução do debate político – como devemos viver juntos – pelos inspectores de costumes, que roubam à justiça o apuramento da “verdade” e se mascaram de moralizadores a quem cabe acender as fogueiras e escolher as vítimas, isso é que é mesmo a continuação da política e da guerra por outros meios. Só que os meios são o vale tudo. E o preço é a incapacidade para que a comunidade política – o conjunto dos cidadãos, com as instituições de que se dotaram – pense a sua situação e decida o seu futuro. O objectivo é claro: criar uma situação em que os portugueses tenham tanta capacidade para decidir como teriam se estivessem a afundar-se no mar profundo ou a arder num labirinto em chamas.
Já faltou mais.
Entretanto, vamos discutindo coisas interessantes. Como saber se é Soares ou Alegre que tem, ou teve, mais o pé dentro ou fora do PS. Outros, mais ladinos, tratam da mercearia.
O meu ponto aqui é a extensão desse fenómeno: que a expressão de certas ideias seja responsável por certos comportamentos em sociedade e pelos custos que eles acarretam para essa mesma sociedade, tanto os custos inscritos nas contas dos autores como os inscritos nas contas dos que indirectamente pagam as favas.
O nosso país continua a pagar as favas da indigência que uma densa cortina de expressão e ampliação de opiniões lança sobre o país, sem que seja possível criar a consciência de como essas opiniões matam. O país tem reais problemas: pessoas e organizações pouco qualificadas, desigualdades injustificadas por não corresponderem ao diferencial de contributo que cada um dá à comunidade, um Estado que continua a não constituir um garante de aspectos essenciais do “bem comum” básico que não podem depender do sucesso económico das pessoas ou do interesse mercantil das actividades. Continuamos a ser pobres, como país. Mas as ideias que ocupam o “espaço público” são completamente orientadas para evitar que se façam os verdadeiros debates – e são usadas para “fazer política por outros meios”. Já não é a guerra que é a continuação da política por outros meios, nem a política a continuação da guerra por outros meios. A dissolução do debate político – como devemos viver juntos – pelos inspectores de costumes, que roubam à justiça o apuramento da “verdade” e se mascaram de moralizadores a quem cabe acender as fogueiras e escolher as vítimas, isso é que é mesmo a continuação da política e da guerra por outros meios. Só que os meios são o vale tudo. E o preço é a incapacidade para que a comunidade política – o conjunto dos cidadãos, com as instituições de que se dotaram – pense a sua situação e decida o seu futuro. O objectivo é claro: criar uma situação em que os portugueses tenham tanta capacidade para decidir como teriam se estivessem a afundar-se no mar profundo ou a arder num labirinto em chamas.
Já faltou mais.
Entretanto, vamos discutindo coisas interessantes. Como saber se é Soares ou Alegre que tem, ou teve, mais o pé dentro ou fora do PS. Outros, mais ladinos, tratam da mercearia.