16.12.09

a coligação negativa e o seu espelho



Detesto a coligação negativa. Custa-me compreender que o PCP e o BE, que tanta dificuldade têm em se entender entre si quando se trata de construir algo pela positiva, se entendam tão facilmente com o PSD e o CDS em iniciativas que apenas visam humilhar o PS e o governo (ou “ajustar contas” com a anterior legislatura). Penso até que o comportamento da esquerda da esquerda parlamentar a tem mostrado tão fracamente preparada para governar como os despojos de MFL e JPP.

Contudo, o reverso da medalha da coligação negativa é o PS achar que todas as demais forças parlamentares estão em pé de igualdade no que toca a viabilizar as políticas do seu governo. A ideia que se transmite ao país é que ao PS tanto faz acompanhar com o PCP como com o CDS no que toca a encontrar soluções para os problemas. Mas isso, se tem aritmeticamente algum sentido, representa o grau zero da ideologia. E o grau zero da capacidade de liderar o debate político da governação nas condições concretas de um parlamento complexo. O PS, fazendo-se de agnóstico face a quaisquer entendimentos, dá uma justificação à coligação negativa: porque a coligação negativa rege-se pelo princípio do “todos contra um”, e o PS (deste modo) pelo princípio do “um contra todos”. (E Paulo Portas é o único que mostra perceber isso. Quando vem desafiar o Governo a negociar o orçamento antes de o apresentar, faz aquilo que uma oposição responsável tem de fazer: mostra disponibilidade para negociar. E apresentará mais tarde a factura se essa disponibilidade não for testada.)

O PS tem de escolher para que lado quer que o vento sopre. O PS tem de desafiar, ou os partidos à sua esquerda, ou o PSD, para uma base política sólida e coerente para a governação. Se quiser desafiar o PSD, está a tempo de determinar o essencial do debate que os social-democratas terão de travar proximamente. Se quiser desafiar as outras esquerdas, terá oportunidade de voltar a mostrar o que entende por esquerda moderna. O PS tem de propor um rumo político ao país que responda à realidade da sua força parlamentar: não pode é continuar a ser o espelho da coligação negativa. Até porque, finalmente, o eleitorado fará dele o principal culpado se o actual jogo do empurra conduzir a uma crise que o país não pode desejar neste momento.

[Produto A Regra do Jogo]