11.4.08

os ideólogos de serviço e o divórcio

A propósito do projecto de lei do PS sobre o divórcio há um fervilhar de críticas, na blogosfera e nos comentários nos sítios de notícias, acusando-o de paternalismo, de querer proteger por via legislativa o que é do domínio do amor, de concepção orwelliana do Estado, etc., etc.. Trata-se, apenas, digo eu, de refugo ideológico do liberalismo radical e mal (in)formado.
Esse cego ideológico está distraído do facto de que todas as evanescentes e etéreas e sublimes relações humanas não seriam nada disso se vivessemos na selva. Na selva não há o puro amor desinteressado por que pugnam aqueles a quem horroriza que se protejam os mais fracos contra o abuso dos mais fortes. E o abuso da força, do domínio, do poder impositivo, o abuso da capacidade de amachucar, é algo que muito frequentemente se mostra ao mundo precisamente a propósito do amor: nomeadamente, quando o amor acaba. E o divórcio - ou a sofrida ausência dele, ou as nódias na alma que dele ficam - sobrevém.
Poderiam, por uma vez, os ideólogos de serviço atender um pouco ao concreto, ao que realmente se passa na vida das pessoas banais, deixando de lado o pecado das grandes generalizações?