6.5.09

à procura de grão vasco

O fim de semana passado começou cedo, mesmo antes do prolongamento justificado pelo Dia do Trabalhador.
Rumámos a alguns dos locais do país onde, fora de Lisboa, melhor se podem apreciar vestígios da obra de Grão Vasco, o grande Vasco Fernandes, que pintou no Portugal de Quinhentos, de forma notável, principalmente ali para os lados de Viseu e Lamego. Mas incluímos outros prazeres no roteiro.

É em Viseu que está, no Museu Grão Vasco, o maior lote de obras notáveis de Grão Vasco.


Sé de Viseu.


Claustros da Sé de Viseu. (Foto de M.Marques.)


Contudo, a verdade é que começámos por S. João de Tarouca, perto de Lamego, onde terá sido a primeira implantação da Ordem de Cister no nosso país, ainda no século XII. Ainda há sinais do que terá sido a grandiosidade do espaço, apesar de só se encontrarem em (relativamente) bom estado de recuperação a igreja e a torre sineira.




Aqui, na igreja, tivemos a oportunidade de ver o S. Pedro, que parece ser hoje mais ou menos unanimemente atribuído a Gaspar Vaz, da escola de Grão Vasco, mas não à mão do próprio mestre. Tem o interesse de apresentar um claro paralelismo com a grande obra homónima de Grão Vasco (foto seguinte).




Trata-se de uma igreja muito interessante. Por exemplo, a capela-mor está preenchida com painéis de azulejos representando cenas históricas (ou assim consideradas). Um desses painéis representa o lançamento da primeira pedra do mosteiro na presença de D. Afonso Henriques (foto seguinte).




Os azulejos, do século XVIII, revelam detalhes curiosos. Por exemplo, um participante de óculos, que não parece que fossem muito usados no tempo de D. Afonso Henriques (foto seguinte).




Passámos depois por Salzedas, e respectivo Mosteiro de Santa Maria, que datará também do século XII, tendo sido construído em espaço provavelmente doado pela mulher de Egas Moniz. Sofreu sucessivas ampliações e restauros, mas está presentemente num estado pouco louvável (fachada na foto seguinte).




Ainda em Salzedas visitam-se os supostos vestígios da judiaria, que na verdade não me convenceram muito (foto seguinte).




No sábado à tarde, depois de visitar o magnífico Museu de Lamego só para ver mais alguns painéis de Grão Vasco, fomos de fugida ao Porto, Casa da Música, ouvir (e ver) a primeira execução em Portugal da obra Gruppen, de Karlheinz Stockhausen, que envolve uma orquestra reforçada dividida em três secções, dirigidas por maestros diferentes e colocadas em posições diferentes (com o público algures no meio). Um pouco menos de 25 minutos, integrados na 3ª edição do Música e Revolução, que valeram a pena. A visita foi ensejo para rever amigos, que ainda nos levaram ao Museu Soares dos Reis, exclusivamente para uma visita à exposição "Esperando o Sucesso": impasse académico e modernismo", sobre Henrique Pousão, em torno da sua pintura Esperando o Sucesso, realizada em Roma em 1882, na qual se representa o tradicional tema do descanso do modelo no atelier do artista. Não obstante, do que vi de Pousão gostei especialmente de uma obra que não estava nessa exposição: Rapariga Deitada num Tronco de Árvore (1883, inacabada, por morte do artista aos 25 anos).



Henrique Pousão,
Rapariga Deitada num Tronco de Árvore, 1883 (inacabada), Museu Nacional de Soares dos Reis


A caminho do Porto, ali entre Peso da Régua e Amarante, fomos confrontados com magníficas cores da natureza nas serras. Cores que talvez resultem de terrenos excepcionalmente ferrosos (alguém nos corrige?).




Ainda queríamos passar pela sacristia da Igreja de Santa Cruz em Coimbra, para ver um Pentecostes que Grão Vasco aí pintou por volta de 1535. Mas a igreja tinha fechado e não ía reabrir, graças à Queima das Fitas que começava nesse domingo. Pena, porque estava com vontade de revisitar, não apenas a sacristia, mas também os claustros de Santa Cruz, onde brinquei livremente (e sem pagar bilhete, como agora) nos meus tempos de menino. Fica para outra vez.

E, para não terminar sem um toque das paisagens estranhas que por aí andam, fechamos com uma montra de Viseu à noite.





Em torno de Grão Vasco, sem dele nada vos mostrar directamente. Mas basta googlar...