Uma central sindical convida um partido político para uma das suas acções de comemoração do 1º de Maio. Esse partido político, um dos que sempre se bateram pela liberdade de comemorar o 1º de Maio, aceita e envia uma delegação. Alguns dos activistas ou simpatizantes dessa central sindical agridem um integrante dessa delegação. O líder dessa central sindical, em primeira reacção, diz que é para verem o que o povo sente acerca da política desse partido. Um director de jornal, e depois outros comentadores, entre quais gente com o título de professor universitário, dizem que o partido político a que pertencem os agredidos é que tem a culpa, por que não devia ter mandado "esses". Este é o verdadeiro estado da democracia.
Quero dizer: há gente, da mais "ilustre", que acha que uma agressão por motivos políticos tem justificação nos dias de hoje. O PS deveria, talvez, perguntar à CGTP quem é que podia mandar a representar o PS. Talvez o PS também devesse perguntar à CGTP quem é que pode ser líder do PS. Por outro lado, os rapazes que agrediram, entre outras coisas por não gostarem que haja pessoas que abandonem certo partido para apoiarem outro, esses é que têm razão: a isso deveria talvez chamar-se, na ideia de alguns, violência revolucionária. E há gente (entre os quais o sr. Fernandes do Público e o "analista" André Freire) que acha que quem tem a culpa é o PS. Isso é gente que tem, no fundo, uma simpatia muito grande pela liberdade: excepto a liberdade dos que não pensam como esses "comentadores".
Quem brinca com o dever de exigir o respeito básico pela convivência democrática, quem justifica a violência canalha só por achar necessário contornar um eventual efeito eleitoral da necessária condenação - quem assim procede brinca com o fogo. E desce demasiado baixo.
Ao mesmo tempo, o partido que foi alvo destes mimos deveria saber distinguir o plano da salvaguarda dos princípios do plano da luta eleitoral imediata. Não me parece de saudar que o PS se precipite a tecer considerações acerca do efeito eleitoral desta erupção antidemocrática, porque numa situação destas estão em causa valores muito mais altos do que a conquista de mais alguns votos nesta ou naquela eleição.
Agressão a Vital poderá beneficiar estratégia do PS para as legislativas.