O ex-deputado e ex-secretário de Estado Vasco Correia Guedes, mais conhecido por Vasco Pulido Valente (não gostava do nome, mudou-o – e isso é importante em gente que vive do nome), cuja acção na governança não deixou para a memória dos feitos da nação sequer um pum, mas julga sempre com muita sanha a falta de grandeza dos demais políticos, dedica as horas vagas (mas, decerto, não gratuitas) a destilar ódios na forma de arrogância, não poucas vezes tintada de ignorância, caindo o fruto desse labor, por vezes, nas páginas do Público.
Saiu hoje mais uma rifa dessas. O mote é um problema qualquer de azia que ele tem contra os que ficaram contentes com a vitória de Obama. Para Vasco Correia Guedes, - o homem que, quando deputado, se deu ao trabalho de ocupar a Câmara com o pedido para ser nomeado como Pulido Valente - essa maltosa que gosta de Obama é “a populaça”. A populaça deve ser a massa de gente que nunca teve tempo para se dedicar a mudar de nome. Ou, simplesmente, talvez a populaça seja quem, de momento, não aplauda vibrantemente as suas opiniões. “De momento”, escrevi, porque, por auto-pluralismo, o Vasco-qualquer-coisa pode ter uma opinião hoje e, sobre o mesmo assunto, ter outra assaz diferente em próximo artigo. Sempre brilhante, claro. Quem não siga a manobra, um iletrado.
Mas, afinal, qual é o problema com Obama, na óptica de VCG/VPV ? Basicamente, ele foi eleito por uma coligação social de não-brancos. O tipo é preto, caraças !
(E aqui VCG/VPV faz alarde da sua ignorância, invocando o conceito de raça como cimento da coligação. “A raça (é bom chamar os bois pelos nomes) determinou…” – escreve ele. Mas não há distintas raças dentro da humanidade; só há uma raça. É uma questão de biologia, mas isso não interessa nada ao escriba: a ciência deste mundo e do outro é feita por ele, ele sabe tudo, todos os demais são ignorantes, quem não lê pelo manual dele não é cientista nem nada ponto final.)
E é isso: Obama é preto e os brancos, maioritariamente, não estão com ele. Quem está com ele são os africanos, os latinos e os asiáticos. E os Republicanos (que, pelos vistos, são o partido dos brancos) vão, com a maioria na Câmara dos Representantes, continuar a boicotar a sua acção. E, segundo ele, a esquerda, pelo menos a esquerda que gosta de Obama (ou que, no mínimo, preferia Obama ao outro senhor), não percebe nada de nada: “a nossa esquerda nunca na vida olhou a sério para a realidade do mundo”. Isto quer dizer o quê? A grande divisão “racial” seria a mesma se Obama tivesse perdido estas eleições. Mas a chatice é que ganhou o preto em vez de ganhar o branco. Os Republicanos, com a sua acção partidária, vão tentar travar Obama. A crítica devia ir para o partidarismo exacerbado dos Republicanos? Não, Obama é que devia ter perdido para facilitar a vida aos Republicanos. Tem tudo imensa lógica, claro. Tem a lógica de VCG/VPV, um tipo amargo porque o mundo não se limita a pensar pela cabeça do articulista, logo ele que é tão brilhante que consegue defender uma tese e a respectiva antítese com a mesma maestria e o mesmo auto-convencimento.
Que lhe paguem para isto não é desculpa: este tipo é mesmo um fã de popós, essa é que é essa.