A Ana Sá Lopes pergunta: «Como é que é possível que a Europa do Sul não discuta em conjunto a saída do euro, a única arma de negociação com peso de que dispõe?». Até um famoso Ladrão de Bicicletas (João Rodrigues) aplaude a pergunta.
Ora, a resposta é fácil: "a Europa do Sul" não existe. Existem países da Europa do Sul com alguns interesses convergentes e alguns interesses divergentes. Se um acordo para fazerem qualquer coisa em conjunto lhes fosse metido no bolso por, digamos, Deus Nosso Senhor; se tal acordo já feito e fechado caísse do céu aos trambolhões, talvez até fizessem qualquer coisa em conjunto. Assim, quem arrisca ser o primeiro a dar um passo no sentido da saída do Euro? O primeiro a dar esse passo é sacrificado no dia seguinte pelo resto dos parceiros (ou, se preferirem, pelos "mercados") e sai pela janela, sozinho e não com a companhia dessa mítica entidade, "a Europa do Sul". Se a Europa do Sul fugisse com os seus trapinhos, no dia seguinte estaríamos a carpir a maldita sorte de estarmos aqui entalados no fim da Península com a Espanha a separar-nos do resto da Europa e a abusar de ser muito maior e rica do que nós. Nessa altura, os brilhantes estrategas do "vamos dar cabo deles" haveriam de conceber uma aliança com a Madeira, os Açores e, quem sabe, as Berlengas e as Desertas.
Afinal, parece que não são só os "economistas ortodoxos" que se esquecem das realidades políticas e institucionais quando se põem a imaginar soluções catitas para os problemas.