21.11.12

o mar, a agricultura e a indústria. e o Partido Comunista.


Segundo o Público, o Presidente da República afirmou que o país precisa de voltar a olhar para os sectores que esqueceu nas últimas décadas: o mar, a agricultura e a indústria.

Não interessa muito agora o facto de Cavaco Silva ter sido, enquanto governante, um dos entusiastas promotores desse esquecimento. A verdade é que a esmagadora maioria dos políticos portugueses - e dos portugueses, mesmo sem serem políticos - alinharam nesse esquecimento. Pensámos que sermos ricos era esquecer essas coisa da produção: os pobres do Sul e do Oriente que produzissem, enquanto nós nos dedicaríamos aos "serviços".
Interessa-me agora outro aspecto da questão: é justo lembrar que o Partido Comunista Português foi durante muitos anos a única força política portuguesa relevante a lutar contra esse esquecimento, ou abandono. Podemos dizer que o fazia por más razões. Por mim posso dizer, pelo menos, que tendo a não me reconhecer num certo nacionalismo que tintava excessivamente essa posição dos comunistas. Mas devo reconhecer que esse alerta se revela, passados todos estes anos, um alerta que fizemos mal em descartar demasiado apressadamente.
Há, aliás, uma mensagem política central a reter nesta questão: a vida política portuguesa há muitos anos que é demasiado teatral e atira para debaixo do tapete muitas questões que deviam ser discutidas mais seriamente. Em geral, as posições do PCP são tratadas com o desdém "lá vêm estes tipos sempre com a mesma conversa". O PCP entrincheirou-se, os demais partidos deixaram que se entrincheirasse, o próprio PCP encontra alguma comodidade nisso. Mas fazemos mal. E isso pode pagar-se caro. Como, se calhar, este caso exemplifica.
A democracia tem de continuar a aprender-se sempre. As vozes são para ser ouvidos e tidas em conta, não apenas para fazer um certo ruído que parece debate sem o ser.

(Rodapé acrescentado. Por alguém me ter chamado a atenção, esclareço que a expressão, da última frase, "as vozes são para ser ouvidos", não é um erro; não devia estar lá "as vozes são para ser ouvidas". Escrevi isso (uma "liberdade poética") para significar que falar e ouvir devem fazer parte do mesmo processo em democracia.)