16.11.12

a violência e a credulidade de alguns liberais.


A propósito da violência nas margens da greve geral de dia 14, queria (além do que já ficou dito) dar nota de um espanto meu.
É claro que a polícia reagiu a uma actuação violenta e perfeitamente inútil da parte de um pequeno grupo de manifestantes. Concordo que esses actos não devem ser tolerados, porque já basta a selva que temos, não precisamos de mais fogo. Mas, e este é um grande mas, estou espantado com a facilidade com que alguns comentadores descartam a análise dos muitos elementos que indiciam que a polícia foi além do necessário e atingiu desnecessariamente muitos cidadãos pacíficos - e, se calhar, usou métodos duvidosos.
Estou espantado com essa benevolência de alguns face à violência do Estado. Afinal, vós que pregais tanto a salutar desconfiança face ao Estado no tocante a assuntos económicos e sociais, porque nesses temas sempre o indivíduo haveria de vir antes do Estado, porque o Estado seria sempre de presumir como um papão (ao querer, por exemplo, redistribuir), esmoreceis tão rapidamente de querer interrogar as razões e os processos do Estado quando se chega a um caso destes? Quanto chega à gestão da violência já sois todos crédulos? Se a polícia disse, está dito, não se pensa mais nisso?
Espanta-me essa acomodação repentina dos que pugnam sempre tanto contra a mão do Estado quando se trata de usar o Estado para redistribuir - e aceitam com tanta benevolência o longo braço da violência. Não se julgue que quero um Estado fraco na manutenção da ordem pública, que é antes de mais uma ordem necessária à convivência democrática e à liberdade. Mas a vigilância e o espírito crítico são indispensáveis quanto às formas concretas de prosseguir essas funções. Por serem vitais essas funções, não podemos autorizar-nos a ser, quanto a elas, crédulos nem benevolentes. Temos de estar vigilantes, tanto quanto à violência da turba, como quanto às responsabilidades daqueles que o Estado paga para nos protegerem.