Um excerto da crónica de Ricardo Araújo Pereira, hoje, na Visão:
A jornalista Ana Sá Lopes topou esta semana, por acidente, com um livro de Cavaco Silva. E, por abnegado sentido profissional, leu-o. Beneficiamos todos do seu sacrifício, porque a jornalista citou um texto de 2001 em que o autor se insurge contra o então primeiro-ministro António Guterres, que pretendia cortar na despesa pública para fazer face à diminuição do crescimento económico. Escreve Cavaco Silva: “O que terão pensado os meus alunos da Universidade ao ouvirem o primeiro-ministro e o ministro das Finanças afirmarem perante as câmaras de televisão precisamente o contrário do que lhes ensinei e que leram nos livros de macroeconomia e de finanças públicas? Porque estamos em época de exames, entendi que era meu dever não ficar calado. O argumento é falso.” E acrescenta, para ilustração dos seus alunos: “Quando o crescimento económico de um país abranda, a política correcta é precisamente deixar que a receita fiscal baixe automaticamente e não cortar na despesa pública. (...) Se quando um país é atingido por uma crise económica se cortasse a despesa pública, a crise ainda se agravava mais. É por isso que não se deve fazê-lo”.
Em 2001, o professor Cavaco Silva tinha o dever de não ficar calado (…). Em 2012, tem estado bastante silencioso perante o mesmo problema. (…) Se todos os portugueses se matricularem num curso de economia, talvez o Presidente da República intervenha, para que o Governo não nos imponha uma solução que qualquer economista considera desastrosa. Se, em vez de cidadãos, formos alunos, talvez tenhamos direito a uma palavrinha.
Conclui RAP, na crónica intitulada "O fantasma do Cavaco passado", que, por causa das leis da física, "não me é possível votar, em 2012, no Cavaco de 2001. Mas talvez este nos desse jeito, agora." Safa.
Ler o texto de Ana Sá Lopes: No tempo em que Cavaco falava.