Há muito quem queira enfrentar esta crise com as respostas passadas. O pessoal do "salve-se quem puder" quer resolver com mais mercado a crise que os mercados (financeiros) espalharam pelo mundo como vírus, parasitando a economia real. (Em rodapé: a maior parte dos anarquistas que por aí andam podem ser metidos na mesma categoria dos hiper-ultra-liberais, já que o individualismo os junta desgraçadamente na mesma prateleira.) O pessoal do Leviatã julga que o Estado resolve tudo, esquecendo as lições do passado acerca do onanismo da burocracia e as consequências em falta de democracia que daí resultaram historicamente. No meio disto tudo, a minha família ideológica - uma coisa que (já) não existe: os partidários da autonomia, do auto-governo, da descentralização, da responsabilidade local - está mais ou menos tão bloqueada pela crise como todos as outras.
Basicamente, os partidários da autonomia, do auto-governo, da responsabilidade descentralizada, dão de caras com o seguinte dilema: antes queríamos soluções locais, participativas, em pequena escala; mas, num mundo globalizado, face à imensidão das forças desorganizadoras, o que é pequeno e local dificilmente se aguenta. Um exemplo comezinho, mas próximo: no sistema financeiro (ver exemplo espanhol) os primeiros a cair foram os pequenos, locais/regionais (em Espanha, as Cajas, que tiveram de ser absorvidas por não se aguentaram nas pernas). Sem voarmos mais alto e mais juntos, cairemos mais facilmente: por isso precisamos da Europa, para lá de qualquer utopia, para sermos mais difíceis de engolir. O "pensar global, agir local" tornou-se muito difícil de praticar.
Estamos todos a precisar de reinvenção. E depressa, antes que o governo dos Relvas consiga não deixar pedra sobre pedra.