16.7.10

proteccionismo imaginativo


A propósito de UE, espanhóis, PT, interesses estratégicos nacionais, e coisas que tais, tem vindo aqui à baila o tema do proteccionismo económico. Especialmente na variante proteccionismo disfarçado, do tipo "nós assinamos todos os tratados, para obrigar os outros também a assinar, mas tudo faremos para os ludibriar". É que "o que é nacional é que é bom". E, por serem assim as coisas, temos dito que andam mal os que fazem gala de apontar o dedo acusador contra Portugal, ou os portugueses, quando jogamos esse jogo. É que, em qualquer jogo, uma parte do combate consiste em, dentro do respeito básico pelas regras, não sermos tansos: não ignorarmos quando as outras partes usam manhas para distorcer o contrato.
Serve este arrazoado como intróito ao reporte da mais recente notícia que tenho, pela edição semanal da Visão, da imaginação proteccionista dos Estados Unidos.
Os States, onde não chegam as cautelas da inteligência nacional portuguesa, preparam-se para introduzir comboios de alta velocidade. E lançam para o efeito, como é de norma, concurso público internacional. O que, está bem de ver, comporta o elevado risco de que sejam empresas europeias, ou mesmo japonesas, a ganhar a possibilidade das interessantes empreitadas em causa. Perigo que, afinal, talvez não se concretize, dado o requisito "moral" introduzido no concurso: as empresas concorrentes não poderão ter, durante a II Guerra Mundial, transportado judeus, soldados americanos ou quaisquer outros "passageiros involuntários" para campos de concentração. Mesmo que, como anteriormente já tenha sido lembrado, essa "cumplicidade" tenha sido importa pelas autoridades nazis, na Alemanha ou nos países ocupados, usa-se assim um pretexto moral como exercício de proteccionismo.
Espera-se que, desta vez, rasguem as vestes em público, com acompanhamento de grande choro, aqueles que se lamentam amargamente quando vislumbram alguma poeira de proteccionismo em práticas portuguesas.
(Entretanto, não devem acusar-me de anti-americanismo por esta crítica: essa acusação passou de moda, não sei bem por quê.)