O partido no poder na Polónia (Plataforma Cívica) tem até agora sido considerado como a força política polaca mais entusiasta das privatizações. O governo polaco queria, de facto, privatizar empresas de sectores como a produção de electricidade, minas, química e farmacêutica. E esperava, com isso, realizar, só em 2010, um montante próximo de metade do défice orçamental previsto para este ano. Além desse factor pragmático, a orientação privatizadora é também uma marca política da Plataforma Cívica relativamente ao partido de oposição Lei e Justiça. Contudo, esse impulso não tem avançado ao ritmo previsto. A interpretação que até recentemente se dava ao facto de nunca mais se concretizar a prevista venda massiva de empresas públicas era, pois, a crise económica. No aspecto capacidade e disponibilidade dos potenciais compradores para se disputarem o suficiente para encher os cofres do Estado.
Contudo, nos últimos tempos o governo tem sinalizado uma mudança de sua filosofia neste assunto. O governo ainda quer privatizar, mas sem perder o controlo de um certo número de grandes empresas. O ponto de viragem teve um sinalizador muito vivo no caso do BZ WBK, um dos mais importantes bancos comerciais polacos, que, aparentemente, pode voltar à esfera de influência estatal. É que o (de longe) maior accionista do BZ WBK, a irlandesa AIB, ficou em dificuldades quando chamada a repor parte das ajudas estatais que recebera e, no aperto, anunciou querer vender os seus activos na Polónia. Ora, sabido isto, o governo, que já detém a maioria do capital do maior banco polaco, o PKO BP, veio dizer que queria tomar posição no BZ WBK. Se isso se concretizar, o resultante PKO BP ficará com cerca de 10 milhões de clientes e tornar-se-á um dos maiores bancos da Europa Central. Para que as coisas não corram mal, o Supervisor do Sector Financeiro Polaco já se terá posto a caminho da Irlanda para arranjar uma solução sem problemas para nenhuma das partes – de modo a deixar pendurados concorrentes esperados como o HSBC, o Santander, o Deutsche Bank ou a Nordea.
A alma da nova estratégia parece ser o peso-pesado Jan Krzysztof Bielecki, que deu recentemente uma entrevista ao diário Gazeta Wyborcza declarando, nomeadamente, que o Estado terá de manter o controlo sobre umas 20 grandes empresas, economicamente estratégicas. Acrescentou, na ocasião, que é perigoso deixar que os estrangeiros tomem conta da banca. Não deixou de reconhecer que era preciso corrigir os erros de gestão que muitas vezes contaminam as empresas que dependem do jogo político, mas defendeu que esse problema devia ser atacado com mais profissionalismo das administrações. Confrontado com a linha política anterior, perguntaram-lhe se tinha mudado de opinião. Ele respondeu que o que tinha mudado era a situação e que a situação é que lhe ensinava o que era necessário fazer.
É, não é?