Tenha-se a opinião que se tenha sobre o envolvimento do Estado na visita do chefe da ICAR a Portugal, essa opinião não devia empurrar pessoas inteligentes para o extremo disparate.
No excelente jugular, f. sugere que a declaração de tolerância de ponto por ocasião da visita de um líder religioso colide com a seguinte disposição da Lei de Liberdade Religiosa:
Ninguém pode ser obrigado a professar uma crença religiosa, a praticar ou assistir a actos de culto, a receber assistência religiosa ou propaganda em matéria religiosa.E até dá a referência concreta e tudo: Lei nº 16/2001 de 22 de Junho, artigo 9º, 1 a.
Foi com raciocínios deste tipo que o estalinismo conduziu a sua campanha de extirpação da religião no país dos sovietes. Com os "efeitos colaterais" conhecidos. E com a eficácia também conhecida: basta ver como as religiões fervilham lá nesse espaço. Só um exemplo da aplicação desta interpretação: deviam proibir as manifestações comunistas, dado o meu direito a não ser obrigado a receber propaganda comunista e, andando pela rua, se der de caras com uma manifestação comunista, acabo por "ser obrigado" a isso. Foi com argumentos desse tipo que regimes totalitários com uma boa dose de esperteza saloia proibiram qualquer manifestação religiosa que não fosse "privada" (fechada em casa ou fechada na "consciência").
Fico fulo com certos campeonatos, em que cada um procura dizer a maior barbaridade para ser o mais berrega numa dada tribo. E, na minha qualidade de agnóstico adverso a sonhos de engenharia social, lamento profundamente o simplismo com que uma certa esquerda lida com a questão religiosa.
[Sobre as coisas sérias do actual momento da ICAR: O longo caminho de Joseph Ratzinger, de Joana Lopes, no Entre as brumas da memória.]