Tudo isto pode ser a propósito da importância da escola nas nossas vidas (ou de como, fracassando essa mesma escola, ela pode não ter importância nenhuma). Pode ser acerca de como na escola somos sujeitos a tantas influências diferentes, desde o mais estúpido mecanicismo à mais cuidada das confusões. Acerca de quão grave é ser professor. E aluno, e aluno. Acerca de como o mundo é complicado, de como as pessoas não são lineares, de como os heróis são novelas em fascículos e alguns dos capítulos vêm escritos em páginas erradas. Esta peça, que podia parecer coisa simples de ver e contar, talvez mesmo demasiado simples, acabou capaz de revelar algo importante: não há cores puras neste mundo. Só misturas.
The History Boys (Los Chicos de Historia), de Alan Bennett, estreada em Londres em 2004, é a história de um grupo de estudantes de história a preparar-se intensamente para o exame de acesso a Oxford ou Cambridge, sob a batuta de três professores, Hector, Irwin e Lintott, com estilos bastante diferentes, orquestrados por um Director que, claro, quer que o seu estabelecimento suba no ranking.
Hector ama o saber e quer ensinar esse amor na sua pureza – mas lecciona “conhecimentos gerais” e ensina francês nas aulas de inglês. Lintott é limitada e não quer aborrecimentos, é boa pessoa mas nem sempre sabe bem como sê-lo. Irwin é contratado para ser um professor mais realista, mais focado nos resultados do que na educação (que nem sabe bem o que seja), apesar de os seus próprios resultados não terem sido tão bons como ele os afirma. Para Hector, que passa a vida a tentar contagiar os alunos com os vírus da língua, da literatura, do teatro, do cinema e da música, o Holocausto não pode ser reduzido ao objecto de um exercício de malabarismo verbal para surpreender o júri de um exame de história. Para Irwin, num exame a verdade histórica é tão irrelevante como a sede numa prova de vinhos. O medíocre director da escola gere o barco com um manuseamento hábil dos regulamentos, mas o barco é mais a sua carreira do que outra coisa.
Cabe lembrar que esta peça, que já deu um filme, localiza a acção em 1983, nos anos Thatcher, no norte industrial em dificuldades. O professor novo, focado nos resultados, é um cínico: mas isso ia bem com o liberalismo que reinava. A peça não se preocupa em desfazer preconceitos. Oxford e Cambridge é que são a meta, as outras universidades não contam, isso nunca é posto em causa, nunca se desmente que o raciocínio do director seja o raciocínio do autor do texto. Interessante é o questionamento (ou a simples exposição) das práticas sexuais pouco conformes ao regulamento que se desenvolvem entre o herói (o professor interessante) e os seus alunos. Talvez hoje poucos autores metessem esta vertente num espectáculo “para todos os públicos”.
No centro deste espectáculo, numa das salas dos Teatros del Canal, está o catalão José María Pou, actor muito premiado de teatro, de cinema e de televisão, encenador, director do Teatro Goya de Barcelona desde a sua inauguração em 2008, que começou com esta peça que lançou oito jovens actores. Ele próprio, o professor Hector, é realmente a única personagem com alguma densidade psicológica. Fica-lhe bem: um homem enorme a chorar, um físico um bocado desengonçado em parceria com alguns desencontros dos estereótipos que poderíamos esperar, acaba por funcionar. O resto é agitação, uma história em grande medida previsível, um fim de tarde de domingo em mais uma excursão ao teatro que se mostra em Espanha.
The History Boys (Los Chicos de Historia), de Alan Bennett, estreada em Londres em 2004, é a história de um grupo de estudantes de história a preparar-se intensamente para o exame de acesso a Oxford ou Cambridge, sob a batuta de três professores, Hector, Irwin e Lintott, com estilos bastante diferentes, orquestrados por um Director que, claro, quer que o seu estabelecimento suba no ranking.
Hector ama o saber e quer ensinar esse amor na sua pureza – mas lecciona “conhecimentos gerais” e ensina francês nas aulas de inglês. Lintott é limitada e não quer aborrecimentos, é boa pessoa mas nem sempre sabe bem como sê-lo. Irwin é contratado para ser um professor mais realista, mais focado nos resultados do que na educação (que nem sabe bem o que seja), apesar de os seus próprios resultados não terem sido tão bons como ele os afirma. Para Hector, que passa a vida a tentar contagiar os alunos com os vírus da língua, da literatura, do teatro, do cinema e da música, o Holocausto não pode ser reduzido ao objecto de um exercício de malabarismo verbal para surpreender o júri de um exame de história. Para Irwin, num exame a verdade histórica é tão irrelevante como a sede numa prova de vinhos. O medíocre director da escola gere o barco com um manuseamento hábil dos regulamentos, mas o barco é mais a sua carreira do que outra coisa.
Cabe lembrar que esta peça, que já deu um filme, localiza a acção em 1983, nos anos Thatcher, no norte industrial em dificuldades. O professor novo, focado nos resultados, é um cínico: mas isso ia bem com o liberalismo que reinava. A peça não se preocupa em desfazer preconceitos. Oxford e Cambridge é que são a meta, as outras universidades não contam, isso nunca é posto em causa, nunca se desmente que o raciocínio do director seja o raciocínio do autor do texto. Interessante é o questionamento (ou a simples exposição) das práticas sexuais pouco conformes ao regulamento que se desenvolvem entre o herói (o professor interessante) e os seus alunos. Talvez hoje poucos autores metessem esta vertente num espectáculo “para todos os públicos”.
No centro deste espectáculo, numa das salas dos Teatros del Canal, está o catalão José María Pou, actor muito premiado de teatro, de cinema e de televisão, encenador, director do Teatro Goya de Barcelona desde a sua inauguração em 2008, que começou com esta peça que lançou oito jovens actores. Ele próprio, o professor Hector, é realmente a única personagem com alguma densidade psicológica. Fica-lhe bem: um homem enorme a chorar, um físico um bocado desengonçado em parceria com alguns desencontros dos estereótipos que poderíamos esperar, acaba por funcionar. O resto é agitação, uma história em grande medida previsível, um fim de tarde de domingo em mais uma excursão ao teatro que se mostra em Espanha.