14.4.10

os indigentes administradores


Eu tenho uma opinião negativa sobre a elevada disparidade salarial no nosso país. Pode haver bons, muito bons, muitíssimo bons salários para gestores de topo - sem que seja preciso haver uma diferença tão grande entre os mais altos e os mais baixos salários num mesmo país. E não colhe o argumento "os privados pagam o que querem a quem querem, o dinheiro é deles e ninguém tem nada a ver com isso". Esse argumento não colhe pela simples razão de que essa disparidade afecta negativamente a coesão de uma comunidade que tem de fazer esforços para dar a volta a uma situação estruturalmente difícil. O espectáculo da exibição dessas disparidades alimenta a raiva dos que têm menos, demasiado menos. Afecta, assim, a legitimidade do sistema na sua globalidade, por a legitimidade também depender da adesão das partes. Claro, essa raiva nem sempre é justificada: há por aí muita gente que não mexe o cu para fazer nada a que não seja obrigado por um pelotão do exército, continuando, no entanto, a achar que os administradores e os deputados é que não fazem mais do que preguiçar o dia todo.
Mesmo assim, os discursos demasiado simplistas acerca dos salários de topo são, muitas vezes, simplesmente tolos. Ainda hoje, comentando (noutro sítio) o meu post sobre a entrevista do presidente do BIG, alguém falava logo a correr de "indigentes administradores". Mas que raio de créditos acham esses "comentadores" que têm para se darem licença de insultar quem quer que seja administrador ou coisa parecida? Esse "varrer" por uma bitola indiferenciada tudo o que cheire a "alto quadro bem pago" é que é indigência.
O ponto é que o mérito conta. Não há-de ser indiferente que António Mexia tenha sido considerado o melhor CEO da Europa na área da energia. Ou que Zeinal Bava tenha sido eleito o melhor CEO da Europa na área de telecomunicações. Isso há-de querer dizer alguma coisa, ou não? É que, bem vistas as coisas, os salários dessa malta até podem valer a pena na óptica do bem comum. Sem prejuízo do que disse a começar, acho que o demasiado simplismo com que "a praça pública" enxovalha as pessoas pertencentes a certos grupos, por um ódio atávico ao "privilégio", não passa disso mesmo. Demasiado simplismo.