A peça "O Avarento", de Molière, estreada em Paris em 1668, não corresponde exactamente (nem pouco mais ou menos) ao tipo de teatro que mais apreciamos aqui por este lado. Contudo, na medida em que procuramos aproveitar as oportunidades que surgem para ver postos em palco os textos que fizeram a história desta arte, lá fomos ao Teatro María Guerrero, um dos que fazem parte do Centro Dramático Nacional aqui em Espanha, ver "O Avarento" na versão de Jorge Lavelli e José Ramón Fernández, encenada por Jorge Lavelli.
O estilo de representação, com o lado excessivo que parece vir sempre associado a estes textos, vai bem com as cores fortes que tratam de fazer com que "a mensagem" do texto não escape a nenhum espectador eventualmente distraído.
O final é o pior: para resolver a embrulhada em que a história se tinha metido, aparece alguém que serve de pai a toda a gente que estava a precisar de um para se desenrascar de um matrimónio encalhado, sendo que a mesma personagem ainda se encarrega de avançar o dinheiro necessário para que ninguém coloque grãos de areia na engrenagem.
Por outro lado, o momento mais subtil do espectáculo acontece quando a menina Mariane - que o avarento (Harpagon), viúvo sexagenário, quer para sua mulher - faz um discurso de dupla chave: parecendo estar a repreender Cléante (filho do avarento) por ele não aceitar aquele casamento dela com o pai dele, ela está na verdade a assinalar-lhe que é dele (filho) de quem ela gosta, e não do noivo oficial (o avarento pai). Para prazer do filho, que é isso mesmo que quer ouvir; e do pai, que gosta do que ouve, por não o entender.
O elenco, dentro do género, defende bem o texto. E, na verdade, dá gosto ver pessoas normais, de todas as idades e aparentemente de diferentes estratos sociais, que investem uma tarde de domingo no teatro, aplaudir com gosto no final. Sinal de que tiraram prazer da experiência.
Inserimos abaixo um vídeo de promoção do espectáculo. A companhia disponibiliza ainda uma série de vídeos dos ensaios, que são interessantes por nos mostrarem aspectos do processo a que normalmente não temos acesso.