18.1.12

desconcertação social a longo prazo.



Fundador da UGT diz que acordo pode ser “certidão de óbito” desta central sindical.

Triste acordo de concertação. Triste desconcertação. Triste por tudo, pela forma e pelo conteúdo.

A CGTP não entra no acordo - mas, também, nunca entra. Em vez de ser uma variável, é uma constante. Isso acaba por reduzir o significado da sua recusa, por muita razão que tenha. E muita razão tem. A relevância da CGTP continua a ser a rua. Sim, a rua importa, mas não é possível uma democracia madura sem que os trabalhadores tenham uma voz à mesa das instituições - e a saída fácil da CGTP, fugindo sempre com o rabo à seringa dos acordos, deixa essa necessidade democrática enfraquecida. E debilita a sua voz própria em circunstâncias como esta, por muito grosso que Carvalho da Silva fale. A incapacidade de Carvalho da Silva para dar resposta a essa visão alargada do papel dos trabalhadores numa democracia é um factor negativo para o seu futuro político pós-CGTP, ele que já chegou a sonhar com uma candidatura presidencial e que, quando passar a pasta de líder sindical, certamente não se deixará ficar fechado entre as quatro paredes de um centro de investigação académica.

A UGT assina, porque, explica, todas as maldades seriam feitas de qualquer maneira, porque as maldades estão previstas no acordo com a troika assinado por PS, PSD e CDS. Mas esse acordo já não existe! Já foi revisto por este governo, sem dar cavaco a ninguém (talvez a Cavaco, não sei), já foi ultrapassado pelos acontecimentos - menos para a UGT, que continua a invocar tal coisa. A UGT assina, porque, explica, ainda podia ser pior: por exemplo, podia vir a meia hora a mais. Mas, então, podia sempre ser pior - logo, devem assinar-se todos os acordos. Não faz sentido: a UGT assina um acordo que não tem nada a favor dos trabalhadores. As confederações patronais, desta vez, nem disfarçam: queriam mais, mas tudo o que assinaram é a seu gosto. E, pior: se calhar terão ainda mais, por via legislativa.

No conteúdo, este acordo, pela primeira vez desde há anos, só estende a mão aos patrões, não tem nada para compensar o esforço dos trabalhadores. É um acordo preguiçoso, porque nada exige às empresas. A grande culpada da falta de competitividade da economia portuguesa, bem como da baixa produtividade da maior parte das empresas, é a deficiente preparação de muitos empresários e de muitos dirigentes das empresas. Fazer bem é necessário, mas fazer bem sem desperdiçar recursos e sem explorar as pessoas é mais exigente. Essa eficiência continua a faltar, parecendo que ninguém está interessado em exigir às empresas que façam melhor por esse lado. A culpa é sempre dos trabalhadores, mas nunca fica escrito como é que os trabalhadores saem beneficiados se as coisas correrem melhor: toda a gente tem de "se unir" para pagar a crise, mas, quando chegarem melhores dias, como serão distribuídas as vantagens? Este acordo, fugindo descaradamente a esta questão, é um acordo anti-social.

E isto digo eu, que sou um reformista apoiante fervoroso de uma concertação social forte. Mas, para isso, se calhar temos de perguntar aos alemães como se faz...