A primeira-ministra da Dinamarca apresentou esta manhã no Parlamento Europeu o programa da presidência do Conselho da União Europeia, que neste semestre será da responsabilidade do seu governo. Dado que quase toda a Europa é governada pela direita, mais conservadora ou mais liberal, e que isso influencia enormemente a resposta à crise, estamos curiosos por saber o que pode fazer, ou, pelo menos, dizer de diferente um governo de centro-esquerda.
As oposições socialistas, trabalhistas e social-democratas na Europa, não apenas em Portugal, têm tido extrema dificuldade em convencer os povos de que seriam capazes de responder de forma substancialmente diferente a esta crise, e que essa resposta seria mais eficaz e mais simpática para o quotidiano das pessoas. Se a Dinamarca, liderada pela social-democrata Helle Thorning Schmidt, desse uma luz dessa alternativa, a nível europeu, durante estes seis meses, isso representaria um grande incentivo à reflexão sobre caminhos socialmente responsáveis que não seguissem a actual linha de empobrecimento forçado embrulhado em ideologia.
Do que disse a senhora Helle Thorning Schmidt, apesar da opacidade relativa do palavreado diplomático de uso nestas circunstâncias, cabe realçar o seguinte: o processo de consolidação orçamental não pode ser abandonado, e é importante, pelo que é preciso completar rapidamente o tratado do "compacto fiscal"; mais isso não chega, é preciso crescimento e emprego, e a Europa tem de agir nesse sentido; o reforço do Mercado Interno, fazendo o que ficou para trás, deve contribuir para uma resposta europeia de crescimento e emprego; isso tem de ser feito com o método comunitário, porque já não estamos em tempos de a Europa ser governada pelos que têm a força, estamos em tempos de governo segundo a lei e em democracia.
Tudo isto são boas intenções - e, além disso, um programa que, concretizado, tocaria em alguns aspectos essenciais do que está em causa. Resta saber se isto é apenas a ponta do icebergue, e a Dinamarca tem ideias concretas para colocar em cima da mesa, ou se isto é apenas um floreado necessário a uma audiência no exigente Parlamento Europeu, sem força e sem aliados suficientes para agitar as águas profundas.
O desvelar dessas potencialidades nos próximos seis meses terá de ser seguido com atenção.
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