Este livro...
Este livro fala abundantemente de máquinas. Computadores e robôs, especialmente. Contudo, ele não é sobre os perigos e potencialidades das máquinas. Este livro é sobre pessoas. Sobre humanos em sociedade. Sobre o que somos capazes de querer e o que somos capazes de fazer com os meios que temos ao nosso alcance – assumindo que não devemos deixar-nos substituir na definição dos fins para que esses meios podem ser mobilizados. Este livro é sobre a possibilidade de que as sociedades em que vivemos sofram determinadas transformações que tornem apropriado dizer que elas são sociedades artificiais.
Este trabalho é uma investigação em Filosofia das Ciências do Artificial, incidindo sobre essa constelação de teorias e práticas científicas que inclui, por exemplo, a Inteligência Artificial e a Nova Robótica. Quem esteja convencido de que há uns anos um computador venceu um campeão mundial de xadrez num torneio dessa modalidade – deve ler este livro. Desde logo, porque vamos tentar mostrar-lhe que não deve estar assim tão seguro disso. Depois, porque deve querer saber que há equipas de robôs a ser preparadas para vencer a equipa campeã do mundo de futebol segundo os regulamentos oficiais da FIFA. Será divertido esse momento? Por muito desafiadora que seja essa perspectiva, talvez devesse ser mais assustador saber que há ramos das ciências sociais que pensam nos humanos como se fossemos computadores, como calculadores impenitentes e moralmente indiferentes.
Do Prefácio:
Este livro é parte de um já longo percurso do autor em torno do tema do paralelismo entre as Sociedades Artificiais e as Sociedades Humanas. O que mais fascina nesse percurso é a forma natural como nele interagem disciplinas aparentemente estanques ou mesmo contraditórias. Como diz Porfírio Silva, ele tem sido “um Filósofo entre Engenheiros”. Nesta altura, alguns filósofos sorrirão imaginando como deve ser impossível a alguém que vive no mundo das ideias interagir com uns seres estranhos, que dedicam a sua vida a olhar para um computador ou para uns chips incrustados numas estranhas placas verdes, produzindo tecnologia que faz maravilhas, mas que os transforma em seres associais e não pensantes. Ou, então, antevejo o sorriso amarelo dos engenheiros mais empedernidos, que agem primeiro e pensam depois, assumindo que tudo na vida é gerido por uma imensa equação matemática cuja solução pode ser complexa de encontrar mas existe. Pessoalmente, mais professor universitário de engenharia que engenheiro, prefiro pensar que o Porfírio Silva tem estado a “fazer filosofia com uma chave de fendas”, conforme a citação que ele próprio faz de Inman Harvey.
Pedro U. Lima
Instituto de Sistemas e Robótica
Professor do Instituto Superior Técnico
Numa boa livraria perto de si.
Lançamento: 3 de Maio, 18:30, Centro Nacional de Cultura