Dennis Sibeijn, Verdade
Enquanto dizia lá fora que não tinha aprovado o PEC IV por este não ir suficientemente longe, ao mesmo tempo que dizia cá dentro que não aprovava o PEC IV porque não se podiam pedir mais sacrifícios aos portugueses; depois de Miguel Relvas passar aquela fatídica sexta-feira a dizer que o PSD não faltaria às suas responsabilidades apoiando todas as medidas que fossem necessárias para enfrentar a crise, Passos Coelho ao fim da noite dizia que não estava para aí virado e que o PEC IV iria ser chumbado. Principal desculpa: o governo não tinha passado cavaco ao principal partido da oposição, sem cujo apoio nada daquilo se poderia fazer. Assim nasceu mais um dos episódios da política do ódio em que o PSD tem mergulhado uma e outra vez: tinha sido esse silêncio desleal de Sócrates que tinha provocado a ruptura, de tal modo que o PSD não podia outra coisa se não chumbar o PEC e, retirando ao governo os meios de governar, empurrá-lo e abrir uma crise política. Depois veio a história do telefonema: Sócrates tinha falado, mas apenas um telefonema. Afinal, Passos Coelho esteve quatro horas a falar sobre o PEC IV com Sócrates. Afinal, o telefonema tinha sido só para combinar o encontro. Agora, Passos Coelho obstina-se em tentar dourar a pílula: eles falar, falaram; mas não negociaram. Uma vez que esta verdade-verdadinha de Passos Coelho vem a conta-gotas, esperemos sentados pelo resto da novela.
Não seria melhor acabar com as tentativas de disfarçar os problemas políticos com querelas pessoais (quantas vezes já acusaram Sócrates de mentiroso, para depois se vez que pinóquios são os que acusam?), assumir a necessidade de compromissos e criar outro tipo de corrida? Seria uma corrida a ver quem encontrava melhores pontos de convergência, melhores combinações de propostas à partida diferentes. Seria uma competição política pela positiva, tentando enterrar de vez esta manobra velha de seis anos que consiste em substituir o nobre combate político pelas tentativas de assassinato de carácter.