PCP não reconhece “legitimidade” ao FMI.
«O secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP) explicou esta noite [ontem], numa entrevista à RTP 1, a razão porque aquele partido recusou reunir-se com a troika de instituições internacionais que está em Portugal. “As nossas relações institucionais são com as instituições da República [Portuguesa]. Não credenciamos legitimidade a instituições estrangeiras”, afirmou Jerónimo de Sousa.»
Não é o FMI, nem o BCE nem a Comissão Europeia, que vão decidir o que Portugal terá de fazer. Terão de ser as autoridades nacionais a decidir e a implementar. A questão não é essa. A questão reside em dois outros pontos.
Primeiro, precisamos ou não de dinheiro que seja emprestado fora das condições do "mercado livre"? Se o PCP (e o BE, que também se baldou aos encontros com o FMI) acham que não, expliquem como acham que o país deve funcionar só com o que tem neste momento. Seria possível? Seria, mas não seria a mesma coisa. Têm é de assumir o que seria preciso cortar sem financiamento externo e tendo que pagar o que devemos. Ou, então, que expliquem as consequências de não pagarmos o que devemos e ficarmos isolados do mercado de financiamento internacional. E atenção, não se trata só de financiar o Estado: trata-se de financiar a actividade económica e trata-se da desconfiança generalizada que recairia sobre as empresas portuguesas que têm presença (importadora e exportadora) no mercado externo.
Segundo, quais partidos estão dispostos a ajudar a parte portuguesa a obter as melhores condições possíveis? O PSD, por exemplo, tem feito tudo para que a troika desconfie de Portugal, desconfie da sustentabilidade interna de qualquer acordo - e, consequentemente, empurre os emprestadores para condições leoninas, destinadas a descansar os respectivos eleitorados. O PSD está na estratégia de enfraquecer a posição negocial portuguesa; está na política de quanto pior, melhor - para poder atribuir culpas ao governo e tentar ganhar votos. A esquerda da esquerda poderia estar a negociar: exigir a máxima equidade social na distribuição do esforço, prometendo guerra social contra as velhas técnicas do FMI e oferecendo perspectivas de paz social em troco de políticas mais equilibradas e mais justas. Mas coloca-se na pior posição negocial de todas: promete fazer sempre o mesmo, quaisquer que sejam as soluções. Essa é a posição negocial da inutilidade.
Será que o PCP (e o BE) contam com Passos Coelho para dourar a pílula? Ou supõem que quem precisa do empréstimo pode colocar-se na posição de quem pede o dinheiro e ainda impõe as condições - sem precisar sequer de negociar? Ou será que a esquerda da esquerda, simplesmente, quer passar directamente para a "sociedade socialista" sem ter de se misturar nestas minudências da vida concreta dos povos?