31.10.07

blog em palco

Flock (in “The Arrival”, desenhado por Shaun Tan)


Imigrantes.
Teatro.
Blogue.
Interactividade.
Blog em palco.

Cristina Elias, uma imigrante em Portugal, fotógrafa-e-contadora-de-histórias-e-militante-suave-de-causas-fortes-e-criadora-de-laços-com-outras-vidas-e-outras-coisas, naqueles rasgões do tempo em que a arte finta o quotidiano dos trabalhos de ganhar a vida montou a exposição “Passagens de Lisboa”, que esteve patente entre Setembro de 2006 e Janeiro de 2007, onde vimos fotografias iluminadas por histórias de mulheres imigrantes.

Natasha Marjanovic, nascida na Bósnia Herzegovina, mulher- de- teatro-que- escreve-encena-e-representa, e que há vários anos faz de Portugal o seu palco, e de quem pudemos ver em palco a representação do que é aterrar aqui vinda de um país que já não existia (Jugoslávia), e que assim ajuda alguns a compreender o que é isso de andar pelo mundo e que assim ajuda que se saiba como isso é enriquecedor e não uma ameaça.

E além destas, outras. E outros. Andam a ensaiar uma peça de teatro à vista do mundo. A peça chama-se “Há mar em Lisboa” e anda a ser construída e ensaiada de forma interactiva. Com o apoio de um blogue. Quer dizer: vamos lá, ao blog em palco, vemos o que eles relatam do que andam a fazer e damos sugestões. Isto é: se formos úteis ao projecto, e deixarmos algo que fixe a atenção deles e resista ao crivo do tempo, deixamos uma pegada na obra.

E depois, a 31 de Janeiro de 2008, às 22 horas em ponto, sem tirar nem pôr, na Music Box, vamos lá ver a estreia. E, com sorte, se tivermos deixado a tal pegada, estaremos também nós um pouco em palco. Pelo menos, mesmo se a nossa arte não der para tanto (a minha não dará, estou certo), estaremos a dar um sinal: o sinal de que gostamos de os cá ter, os imigrantes em Portugal, porque eles são parte deste país e da nossa alegria. Ou talvez até sejam por vezes parte das nossas tristezas, mas é assim a vida: ninguém deita fora os irmãos por eles às vezes nos fazerem chorar. Ou deitamos?

Descontadas as perguntas metafísicas, é ir lá. Ao blog em palco. Ler e atirar. Atirar ideias. Ou pedras, quem sabe. Tentar deixar uma marca na relva, mesmo sabendo que as marcas na relva são efémeras.