8.10.07

Aos que esperam o milagre do agente económico privado (Lendo Teodora Cardoso - 4)

«Portugal tem reconhecidamente um problema orçamental, mas tem também um sério problema de qualidade do investimento, público e sobretudo privado. Em termos de atribuição dos recursos – o factor que determina o crescimento da produtividade e o enriquecimento geral do país –, este é, de longe, o problema mais grave da economia portuguesa. Desde a adesão à UE, em 1986, Portugal tem o mais elevado racio de investimento da UE-15. Se quisermos ir mais longe, observaremos que, desde que há dados (cuja publicação se iniciou na década de 50), o racio de investimento privado em Portugal é dos mais elevados do mundo. O peso do investimento público acentuou-se após a adesão à UE mas, como não podia deixar de ser, o investimento privado permanece largamente dominante.

Ao contrário do que se esperaria, deste investimento não resultou o acréscimo paralelo da produtividade. Ao longo das quatro décadas e meia cobertas pelas estatísticas europeias, a produtividade em Portugal não cessou de distanciar-se da maioria dos seus parceiros europeus.
É claro que são muitos os factores que explicam esta divergência, desde os culturais aos institucionais, à definição e execução da política económica. Por isso mesmo, é tempo de deixarmos de contentar-nos em atribuir à fiscalidade ou à má qualidade da administração pública os problemas da economia. Menos ainda podemos esperar repor os equilíbrios macroeconómicos somente através da redução do peso do sector público, supondo que – por alguma espécie de milagre – o sector privado se torna subitamente eficiente e competitivo.»

(Teodora Cardoso, “Matérias de Reflexão”, Portal da Ordem dos Economistas, 16/05/05)