6.6.07

O mecanismo interno de ELIZA (Eliza-3/5)


O esquema básico do funcionamento do ELIZA era simples: na frase inserida pelo utilizador era procurada uma palavra-chave; a cada palavra-chave correspondia um conjunto de regras de decomposição e uma delas era aplicada para transformar a frase numa sequência de palavras manipulável pelo programa; sobre essa sequência era aplicada uma das regras de recomposição associadas à mesma palavra-chave, de modo a produzir a sequência de palavras que constitui a resposta do computador. O programa variava as respostas: não usava sempre as mesmas regras de decomposição e de recomposição para ocorrências diferentes da mesma palavra-chave. Um exemplo é o seguinte:



O programa dispõe de um dicionário de palavras-chave, que permite determinar se alguma das palavras contidas numa frase inserida pelo utilizador é uma palavra-chave. O utilizador pode inserir, de uma só vez, mais do que uma frase ou uma frase composta, mas o ELIZA só pode transformar uma frase simples de cada vez. Por isso, quando analisa uma inserção do utilizador e encontra uma vírgula ou um ponto final, se já encontrou até aí uma palavra-chave ignora tudo o que aparece a seguir a esse sinal de pontuação; se ainda não encontrou nenhuma palavra-chave, apaga tudo o que “lera” até aí e concentra-se no restante. Se numa entrada não encontra nenhuma palavra-chave, o ELIZA ou retoma um tópico anterior ou responde com uma frase do género “Porque é que pensa assim?”, destinada a ter cabimento em qualquer contexto.


Weizenbaum explica que escolheu o psicoterapeuta como o seu “personagem” porque a entrevista psiquiátrica lhe pareceu um dos poucos exemplos de comunicação em linguagem natural com dois intervenientes em que parece natural, para uma das partes, a pose de quase completa ignorância acerca do mundo real. Quando um paciente diz “Fui dar uma grande volta de barco” e o psiquiatra responde “Fale-me de barcos”, não pensamos que ele seja ignorante acerca de barcos, mas que ele tem algum objectivo em mente para orientar a conversa desse modo.


Weizenbaum é muito claro ao afirmar: os pressupostos são lá postos pelo humano; quem atribui conhecimento e inteligência ao seu interlocutor é o humano. Neste caso, o autor do programa é completamente transparente: mostra toda a operação interna do ELIZA e explica que, além dos truques relativamente simples que lá colocou, tudo o resto é fornecido pelo humano utilizador.


Amanhã veremos as reflexões que ELIZA mereceu a Weizenbaum alguns anos mais tarde.