3. O “CHOQUE TECNOLÓGICO” TEM DE SER GUIADO POR UM “CHOQUE DE GESTÃO”.
A reforma do estado social não é exclusivamente, nem sequer principalmente, uma questão de despesa. O estado social em Portugal não pode, por enquanto, gastar menos: tem, ainda, de gastar mais, porque ainda é muito fraco. A reforma do estado social tem de ser capaz de responder à necessidade de produzir mais riqueza nacional, e produzi-la de forma mais acelerada. Isso passa por reformar as condições de operação das estruturas produtivas.
Num país onde a qualificação média dos empresários é inferior à qualificação dos empregados, não é possível vencer a batalha da produtividade. A esmagadora maioria das empresas portuguesas tem má gestão, gestão virada para a sobrevivência imediata, quando não para o mero interesse particular dos patrões. Esse é o preço elevado que se paga pela demagogia da prioridade às PME. Nos demais países europeus, PME são empresas com 500 trabalhadores e mais. Em Portugal estimamos muito uma quantidade enorme de empresas minúsculas desprovidas de qualquer racionalidade económica. Os próprios fundos comunitários foram massivamente delapidados a ajudar empresas sem qualquer viabilidade económica, que seria melhor terem desaparecido, em vez de terem servido para criar empresas mais modernas e mais fortes, com emprego mais qualificado e produzindo para mercados mais exigentes.
Precisamos de um choque de gestão, sem o qual o choque tecnológico não serve para nada. É preciso que tanto os empregadores como os trabalhadores compreendam que aumentar a produtividade significa gastar menos tempo para fazer as mesmas coisas, fazer melhor as mesmas coisas melhor e fazer coisas melhores. E esse objectivo depende, em larga medida, da gestão. Na verdade, os principais empecilhos não são os trabalhadores, mas os gestores.
Contudo, isso implica, também, que os trabalhadores aceitem acordos relativos à organização do trabalho que satisfaçam as necessidades objectivas da produção e da comercialização, que tenham em conta a variabilidade do mercado e os interesses dos clientes. E, então, será justo que os trabalhadores obtenham contrapartidas adequadas à sua cooperação. Mas, mais uma vez, é preciso modificar o tipo de negociação laboral existente, deixando de centrar tudo nas questões salariais e insistindo noutras questões de interesse para a qualidade de vida dos trabalhadores. Por exemplo, oportunidades de qualificação, tempo de trabalho, condições de trabalho.