No passado dia 21 escrevemos uma nota acerca de um projecto de resolução da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, na qual manifestávamos dúvidas sobre a conveniência de fazer uma assembleia "tipo parlamento" pronunciar-se sobre factos científicos, teorias científicas, critérios de cientificidade e coisas que tais. Essa nota vinha a propósito de uma posta publicada no blogue Ciência ao Natural. Temos agora desenvolvimentos.
Ontem, os parlamentares do Conselho da Europa recusaram-se a discutir o tal projecto de resolução. O autor do projecto, o socialista francês Guy Lengagne, declarou que se tratava de uma manobra dos que são contra a teoria da evolução. Pode até ser que seja, mas a ocorrência mostra, a meu ver, que podem ser perigosas as tentativas para resolver por via político-parlamentar as questões relativas ao estatuto das teses científicas (incluindo a demarcação com o que seja pseudo-ciência). Por outro lado, talvez a explicação não tenha de ser a de Guy Lengagne: a mesma assembleia parlamentar já tinha antes recusado discutir outros projectos de resolução, por exemplo sobre eutanásia e sobre cientologia.
Os partidários da ciência, de uma ciência esclarecida e livre, sem dogmas de capela mas exigente nos seus padrões, terão talvez de pensar melhor como colocar este debate público. Seria bom compreender que a Europa não é a América, que os adversários de lá não são iguais aos adversários de cá, que aquilo que é eficaz numa opinião pública americana radicalizada e povoada de extremistas pode não ser eficaz numa opinião pública europeia menos fundamentalista e mais céptica.