28.2.11

congresso do PS: há qualquer coisa que me está a escapar

12:03

Talvez eu esteja enganado, talvez não tenha percebido bem. Mas parece-me haver qualquer coisa estranha na preparação do próximo congresso do PS. Parece que para apresentar uma moção política global (sobre o rumo do país e do partido) é preciso ter um candidato a secretário-geral. Talvez por isso pululam candidatos a secretários-gerais, alguns dos quais já fizeram notar que só o são por a isso serem obrigados por causa daquela regra - caso contrário teriam de prescindir das suas moções. Mas ao mesmo tempo parece haver quem diga que, dados os momentos difíceis que se atravessam, é preciso unidade e estabilidade. Em torno do secretário-geral. Isto quer dizer o quê? Que a unidade e a estabilidade se poderiam alcançar por via da não-discussão? Ou pela redução das alternativas a notas de rodapé à moção do actual secretário-geral? Há de certeza algo que me está a escapar. Não é possível que alguém dentro do PS pense que o melhor seria não haver grandes discussões para o congresso.

24.2.11

pensar outra vez na autonomia

17:15

Há uma certa direita liberalóide que faz de conta que é contra o Estado por ser a favor das liberdades de cada um de nós. Episódios recentes nos EUA, aqui comentados e enquadrados pelo João Galamba, mostram que a realidade é bem outra. Essa direita é contra o Estado quando o Estado poderia limitar a "liberdade" dos poderosos, os quais ficam muito mais à vontade quando deixados sozinhos na selva - sozinhos, quer dizer, eles com as armas todas e os demais à mercê. A mesma direita já é muito a favor do Estado quando o Estado se torna a arma principal de espoliação, quando o Estado faz o papel de pivô do ataque às pessoas. Aí, os mesmos que são muitíssimo a favor da "liberdade de empresa", se a empresa vender petróleo ou sabonetes, já são contra a "liberdade de empreender" se o "empreendimento" for de cidadãos a defender os seus direitos.
Isto coloca um desafio renovado às esquerdas que por aí andam: precisamos pensar outra vez no papel das pessoas que se organizam, se auto-governam, se associam, tratam de aumentar a sua autonomia enquanto pessoas-com-solidariedades, não ficam à espera da "revolução final" para melhorar a vida cá por baixo. Sim, claro, tudo resquícios daquilo que os "socialistas científicos" chamarão com desprezo, ainda e ainda, "socialismo utópico".

há um ar de luz nas tuas palavras




Há um ar de luz nas tuas palavras.
Tu já não andas, não comes, não vês.
Mas dizes.
Coisas que o mundo viu no tempo em que o percorrias.
Coisas que percorreram a tua visão no tempo
em que tu ias.
Há um ar de luz nas tuas palavras
e por elas respiro,
tubinho vegetal a ligar-me à superfície das águas.



Vladimir Dubossarsk & Alexandre Vinogradov, sem título, óleo sobre tela, 2008

(roubado à Maria do Sol)


no pingo doce o aumento do iva não entra

23.2.11

a maioria orçamental e o seu enredo


Passo a citar:
O BE é co-responsável por aquilo que chama «a maioria orçamental» / «as políticas de direita» (...)». Em primeiro lugar, temos um sistema político desequilibrado: a direita (PSD vs CDS) é capaz de cooperar; a esquerda (PS vs BE e PCP) não, nunca foi, excepto em questões marginais da luta política. (...) o sistema partidário nasceu inclinado para a esquerda, mas vive enviesado para a direita.
Quem o diz é André Freire, citado por José Leitão.

corpo | imagem | ciência | arte | eu olho tu vês


Exposição Corpo Imagem, no pavilhão do Conhecimento, até 27 de Março.

Vemo-nos por lá?


as revoluções árabes, a diplomacia e a demagogia do parlamentarês

10:27
 
Arabian Peninsula and northeast Africa as seen from Gemini 11 spacecraft



Luís Amado acusa Ana Gomes de distorcer as suas declarações sobre a Líbia
.

Parece inevitável que o debate político se esteja a transformar aceleradamente numa farsa. Uma farsa é uma situação em que uma variedade de planos, que coexistem na realidade-real, são rebatidos num único nível, como se a realidade tivesse uma única camada, como se todos falassem das mesmas coisas, tivessem os mesmos papéis a desempenhar e as mesmas responsabilidades. Uma farsa resulta de os actores falarem como se a realidade fosse assim plana, quando os que observam sabem e compreendem que as coisas não se passam assim.

As revoluções árabes têm sido mais uma janela de oportunidade para se manifestarem os sintomas de farsa na política.
Há quem faça de conta que todas as revoltas que por aí andam darão, em linha recta, novos 25 de Abril, no seu mais puro fruto, sem 28 de Setembro, sem 11 de Março, sem 25 de Novembro, apenas com o dia inaugural a durar sempre. Ficam escandalizados com quem também vê riscos no que se está a passar, com quem conta com os fundamentalismos que aproveitam a democracia para a matar. O reconhecimento de que os povos merecem melhor do que aquilo que têm não é equivalente a pretender que qualquer mudança será boa, ou que a mudança não comporta perigo algum.
Há quem pense que Portugal devia ter uma diplomacia pura, unicamente orientada pelo combate sem tréguas pelos direitos humanos, que devíamos renunciar ao comércio internacional com todos aqueles que não tenham certificado de qualidade para os seus regimes. A esses não interroga o facto de nenhuma nação fazer isso, não lhes passa pela cabeça que todos os países democráticos esperam pelo tempo em que o afastamento face a um regime pode produzir efeitos reais, esses anjos do bem julgam que a política internacional marcha ao rufar dos desejos, quando ela marcha ao som das forças - e não vale de nada desperdiçarmos as nossas enquanto não se desenhar uma conjugação que possa fazê-las valer.
Há quem esqueça que as diplomacias têm de cuidar do escudo que representam para os seus cidadãos que se vêem apanhados por instabilidades várias fora de portas: um parlamentar pode barafustar à vontade contra Khadafi, mas um ministro dos negócios estrangeiros tem de pensar nos seus concidadãos que esperam ser retirados do turbilhão.
O exemplo corriqueiro da demagogia banal nestes casos é publicar fotos de governantes portugueses com ditadores em desgraça e com isso querer significar que o nosso país é um aliado do mal - mas, claro, omitindo os milhares de fotos desses mesmos ditadores em desgraça com inúmeros outros dirigentes de nações democráticas e civilizadas. O exemplo sofisticado da mesma demagogia é pretender que os governos podem ter o mesmo tipo de actuação, e de opinião oficial, que têm parlamentares individuais, comissões parlamentares, ou parlamentos inteiros - quando as responsabilidades respectivas são bem diversas.

É o acumular destas confusões de papéis e de planos que transforma um certo tipo de reivindicação de superioridade moral numa farsa.

22.2.11

dizem no albergue espanhol...

quem anda à chuva molha-se


Khadafi apareceu por uns segundos para dizer que ainda não estava num palácio em Caracas, mas sim em Tripoli. Parte importante da exegese da mensagem é a chuva: chovia em Tripoli à hora suposta da prova de vida e isso ajuda à tentativa de verosimilhança. Pode bem ser uma conspiração metafísica para comprovar o dito "quem anda à chuva molha-se".



(sacado à ariel)

que a liberdade não seja um negócio

15:47

O presidente do Tribunal de Contas, Guilherme d’Oliveira Martins, que foi também ministro da Educação, defende que deve existir “liberdade de aprender e ensinar”, exigindo, assim, que o Estado “não tenha o monopólio do serviço público de educação”.

Tenho o maior apreço por Guilherme d’Oliveira Martins, mas estas declarações parecem-me uma rematada falácia. Por várias razões, de que menciono duas principais.
Primeiro, a liberdade de ensinar e aprender não deve ser desculpa para que alguns grupos económicos encham os bolsos com o dinheiro dos contribuintes. Não há nada contras as escolas privadas, há muito contra que elas queiram ser empresas a viver à custa do dinheiro de todos. E há, ainda mais, contra a transformação da rede pública de ensino numa manta de retalhos, em que os privados ficam com o lombo e o público com os ossos - sim, porque ninguém pode obrigar os privados a irem para certos sítios e para certas missões, mas o Estado deve prover todo o território e toda a população com ensino de qualidade, não se limitando às manchas que não interessam aos privados. Logo, o Estado deve pensar em todos e não apenas naqueles que não interessam a certos sectores.
Segundo, acho absolutamente extraordinário que a liberdade de ensinar e aprender seja uma questão de ensino público ou privado. Não deve haver liberdade de ensinar e aprender no ensino público? O ensino público será para enfiar uma cartilha pela goela abaixo dos alunos? A liberdade de ensinar e aprender só estará dependente do ensino privado se aceitarmos que os pais são donos dos filhos e podem fechá-los dentro de um filtro ideológico que os isole das ideias que por aí andam. Se uma família achar que a ciência é demoníaca, deve ter direito a uma escola onde não se ensine física, biologia ou matemática? Se é assim, estão a pedir que podemos ter, como alternativa à escola pública, madrassas, com um currículo à base de língua árabe, interpretação do Alcorão, charia, narrações do profeta Maomé e história do Islão - e colocar isso debaixo do chapéu da liberdade de ensinar e aprender. A liberdade tem de estar em todo o lado, mas essa liberdade não pode ser escusa para fechar os meninos em panelas de pressão ideológicas - e ainda por cima querer que nós financiemos o mecanismo.
Há exemplos de verdadeiras Parcerias Público-Privadas em Portugal no campo do ensino - e ainda por cima sem a corrente de dinheiros públicos canalizados com excessiva liberalidade para os privados, como acontece com outras parcerias. Estou a querer dar o bom exemplo das Escolas Profissionais, que preencheram um verdadeiro vazio na oferta pública de ensino profissional, sujeitando-se ao critério da utilidade pública da formação, da empregabilidade dos alunos e das necessidades da economia, dos interesses do desenvolvimento regional. Não estamos, portanto, contra as escolas privadas: o que não nos parece curial é que se use a liberdade como argumento para o negócio - nem como meio para criar uma espécie de "escolas ideológicas" destinadas a uma qualquer pretensa "elite moral".
E, mais uma vez, convém não meter tudo no mesmo saco. Até estou de acordo com Nuno Crato quando (na mesma notícia) critica que decisões de micro-gestão, como a duração das aulas, sejam decididas centralmente. Mas isso não tem nada a ver com a liberdade de ensinar e aprender: tem a ver com a necessidade de desburocratizar e flexibilizar as instituições, dando mais autonomia e mais responsabilidade aos agentes que estão com a mão na massa. Só que isso não é uma conversa sobre público ou privado. É uma conversa sobre todos, que faz sentido - mas que faz mais sentido se não for instrumentalizada nestas guerras em que a liberdade corre o risco de ser pouco mais que um álibi.

Khadafi entre o seu povo



(Cartoon de Carlos Latuff)


agora a Líbia

01:28

São sempre as ditaduras mais brutais que custam mais a derrubar, porque não têm escrúpulos nem pruridos quanto à violação dos direitos humanos mais básicos.
Face ao que se está a passar na Líbia - parece que até já houve bombardeamentos das manifestações - está na hora de a comunidade internacional deixar os discursos oleosos e dizer claramente a Khadafi que ele será perseguido pessoalmente, de forma efectiva, por violação grave dos direitos do seu povo.

21.2.11

um docinho para levar para casa


Ainda bem que há jornalistas esforçados que, trabalhando em equipa em jornais de referência, dão notícias importantes para os seus leitores, todos os cidadãos deste país e arredores - e mesmo para todo o mundo.

Portal das Finanças redirecciona para a Comissão Nacional de Eleições… de Cabo Verde.

Se todos os jornais de referência publicassem notícias sobre erros em links de páginas oficiais, o emprego de jornalistas aumentaria e talvez deixasse mesmo de ser tão precário.

E gosto particularmente do tom "o meu diário": «O PÚBLICO apercebeu-se desta situação insólita ao tentar aceder à página electrónica da CNE (portuguesa…) a partir da página de ligações a sites do Portal das Finanças (http://info. portaldasfinancas. gov.pt /pt /divulgacao /outros_links.htm). Ao clicar no botão relativo à “Comissão Nacional de Eleições” (na coluna da direita da página de links do Portal das Finanças), o internauta era remetido ao início da tarde para http://www.cne.cv/, a CNE de Cabo Verde, com música e gravações em crioulo.» E depois veio o capuchinho vermelho e deu-nos o link certo... (Ah, não, a notícia está na secção de Economia, pelo que deve ter sido o lobo mau a fazer a boa acção.)

os Deolinda são mesmo bons a inventar hinos


Este aqui é mais antigo mas não deixa de colar muito bom com certos reformismos.

-Agora não, que falta um impresso...
-Agora não, que o meu pai não quer...
-Agora não, que há engarrafamentos...
-Vão sem mim, que eu vou lá ter...



Lembrado pelo João Magalhães.

20.2.11

a infinita profundidade do presente

12:27

Se a minha memória não me falha (uma improbabilidade), o primeiro espectáculo de teatro que vi foi "A Morte de um Caixeiro Viajante", no Teatro Académico Gil Vicente, em Coimbra, nos meses a seguir ao 25 de Abril ("o" 25 de Abril é o de 1974), levado pela minha irmã Leonor ou pelo meu irmão Manuel. Teve de ser nesse período, já que esse foi o último ano lectivo em que residi na cidade. E tive de ser "levado", por nessa altura não ter ainda autonomia (nem intelectual nem financeira) para tomar decisões dessa natureza. Não faço a mais pequena ideia de quem eram os actores, nem sequer qual era a companhia. Lembro-me de uma encenação onde o palco era ocupado quase totalmente por uma espécie de imenso andaime, onde as personagens da vida de Willy Loman se emaranhavam fisicamente com tanta contorção como retorcidas eram as suas memórias.
O texto é de Arthur Miller e foi levado ao palco pela primeira vez em 1949. Podendo ter parecido desactualizado na euforia de alguns anos passados na ilusão de um capitalismo adocicado e engolido com analgésicos, é hoje de uma actualidade indesmentível. Mas não é a isso que venho agora, já que um texto é um texto, podemos pegar nele e lê-lo quando e como quisermos, a fazer o pino pode tornar-se difícil por confundirmos o sangue que sobe à cabeça por causa da posição com os nervos transportados pelas ideias do autor, mas o texto descansa à nossa espera. Já a peça em palco, gente viva com gente viva, é outra história. Essa gente viva pode matar o texto ou, pelo contrário, injectar-nos visões as mais díspares.
Vem tudo isto a propósito de uma ida ao teatro, ontem à noite, ver A Morte de um Caixeiro Viajante, pelo Teatro Experimental do Porto, com encenação de Gonçalo Amorim, no quadro do "Ciclo de Teatro do Porto?" (o "?" não é engano), a correr no Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa. Valeu a pena voltar a este caixeiro viajante.
Aos meus olhos de leigo, um dos desafios maiores da encenação deste texto está nas constantes idas ao passado em que o sexagenário Loman viaja quando coloca em perspectiva as suas desventuras presentes. Se a coisa for mal feita, o espectador perde-se, ou perde-se a fluidez de um discurso interior que corre às vezes em contra-mão do discurso público. Neste caso, consegue-se que os fantasmas encarnem de forma perfeitamente compreensível e fluída no plano do presente, sem truques, apenas com os suficientes marcadores discretos da diferença (que uma personagem se vista de forma anacrónica relativamente às demais pode ser suficiente para a deslocar umas dezenas de anos do presente e ajudar-nos, a nós espectadores, a destrinçar).
De qualquer modo, o que queria aqui sublinhar é a interpretação. Não vi nenhuma mancha por esse lado (nem todos podem brilhar: o patrão do caixeiro viajantes está certinho e correcto, mas não tem muito por onde voar, está escrito como um estereótipo), alguns actores estão muito eficazes (é o caso de Maria João Pinho, a fazer Linda, a mulher do protagonista, talvez a personagem mais realista, aquela que em tudo o que diz e faz poderia existir sem qualquer teatro numa família daquele tipo) - e há, depois, um monstro de representação: Claúdio da Silva, o caixeiro viajante (Bernardo Soares, no Filme do Desassossego).
Cláudio da Silva apresenta-se de forma absolutamente excessiva, usando o corpo para dar corpo a uma vida em convulsão; usando a exploração do espaço para mostrar uma vida onde ele correu mundo sem nunca se ter libertado da hipoteca da casa e do seguro para pagar e da prestação do frigorífico acumulada com a respectiva reparação precoce; contorcendo os membros e a cara para mostrar como as recordações do passado, de todas as cores, lhe afligiam o presente destinado a cavar-se em buraco. O excesso de Cláudio da Silva em palco (e pela sala toda), materializa a grande tragédia que ali está em causa: a infinita profundidade do presente. Se ao menos o homem pudesse esquecer os pecados passados, deixar descansados os sonhos mal acabados - mas não, tudo se torna presente quando o presente já é difícil e isso bloqueia ainda mais o acesso à saída.
O excesso infinito da representação de Cláudio da Silva é, assim, a concretização absoluta do que há de mais trágico nestas vidas banais que andam por aí todos os dias: quando o momento presente, longe de ser plano, cava tudo o que temos acumulado nos recantos do corpo que é a alma dos vivos.


19.2.11

reserved for drunk drivers



«Pacheco Pereira defendeu um acordo entre os dois maiores partidos (PS e PSD) para se conseguir ultrapassar a crise que, segundo a sua previsão, vai durar cerca de uma década. “Estamos numa enorme crise que, na melhor das hipóteses, demora quase uma década a resolver se tudo correr bem. E correr bem significa ter um plano consistente de austeridade, com princípio, meio e fim, que desloque os poucos recursos disponíveis para aquilo que é fundamental”, disse. “Ninguém tenha ilusões de que nos próximos anos seja possível manter um programa consistente de mudança, sem haver qualquer forma de entendimento entre os dois partidos, sobre isso não tenho dúvida nenhuma”, acrescentou.»

Depois de anos em coligação negativa com o PCP e o BE, apenas para impedir o PS de governar, o PSD, achando que chegou a sua vez de tomar as rédeas, quer um entendimento duradouro entre PS e PSD? O PSD passou anos a conduzir à moda do rali de Portugal no tempo das curvas do Caramulo - e agora quer que o PS seja o menino bonzinho do filme? Mas que grande lata!

18.2.11

afinal, não são só os deputados no parlamento que abusam da linguagem bárbara, assim poluindo o espaço público que merecia mais elevação

19:07

Lê-se no i : «O presidente da Jerónimo Martins, Alexandre Soares dos Santos, acusou hoje o Governo de mentir ao negar que Portugal está em recessão económica, considerando que "estamos em recessão". "Não vale a pena continuarmos a mentir. Não vale a pena pedir sacrificios às pessoas sem lhes dizer a verdade. As pessoas têm de saber para que estão a fazer os sacrificios e não adianta negar que estamos em recessão, porque estamos", afirmou aquele responsável durante a apresentação de resultados do grupo em 2010. Questionado sobre o segredo do sucesso do grupo, que aumentou os lucros em mais de 40 por cento no ano passado, Alexandre Soares dos Santos respondeu: "Os truques é para o [primeiro-ministro] Sócrates. Eles [os políticos] é que gostam de truques. O nosso sucesso assenta em trabalho".»

Há sempre muitas razões para louvar um empresário que faz pela vida, pela sua e pela dos outros, com trabalho e com visão. É o caso deste homem, penso eu. Contudo, a má educação e a pesporrência ficam mal a qualquer um. E assim crescem as provas de que muitas pessoas, competentíssimas no seu domínio, se tornam torpes quando querem fazer-política-como-se-não-quisessem-fazer-política-nenhuma.
O hoje em dia bem sucedido grupo liderado por este senhor já passou por maus bocados num passado não muito distante: teriam gostado, nessa altura, que os achincalhassem publicamente, acusando-os, por exemplo, de falta de clarividência nas escolhas que lhes provocaram as ditas dificuldades?
Que o senhor ache que ele é o único que trabalha, já é lata suficiente. Injuriar, neste caso o PM, acusando-o de mentir quanto à história da recessão, quando a definição técnica de recessão mais consensual entre os economistas é a de um crescimento negativo do produto em dois trimestres consecutivos e Portugal não está nessa situação, é prova do descontrolo comportamental a que chegaram figuras deste país que devemos exigir que se comportem, pelo menos em público, com um mínimo de decência.

prémio "a pergunta ingénua do ano"


Uma semana e meia terá transformado o Bloco num partido igual aos outros?

Há muito tempo que o partido Bloco de Esquerda é um partido igual aos outros. Só quem ainda acredita em amanhãs que cantam, no pai natal ou no menino jesus, em redentores e salvadores do mundo, ou que o dinheiro cai do céu e esse foi o maná que moisés descobriu no deserto, é que ainda não tinha percebido que o PBE (Partido Bloco de Esquerda) é um partido igual aos outros. O que não é mal nenhum, excepto para os profissionais da ingenuidade pretendida.

o PSD tem um programa claro para Portugal



Marques Mendes repete o que Passos Coelho já disse há semanas. A diferença é que agora já "pode não ser o FMI". Temem a evolução do processo europeu para novas articulações entre Estados Membros, coisa com que não contavam, nem previram, nem propuseram, nem esperaram. Não contaram com a política. Sendo políticos, conceberam que o governo ficaria de braços cruzados, que o governo não faria política. Esperavam, e esperam, que baste abrir o regaço e esperar que a fruta caia.

17.2.11

grandes comentadores


Sobre esta notícia Rendeiro só vê reconhecidos 25 euros dos 4,25 milhões que reclama ao BPP (no Jornal de Negócios), José Manuel Fernandes (no FB) exulta: «Ora aqui está uma notícia que gostei de ler! Então o homem levou o banco à ruína e ainda queria receber 4,25 milhões? É preciso ter lata.»
Só posso aplaudir, não é?!


Pois. Se calhar mais valia continuar a ler a notícia: «Porém, o credor 5.647, a sociedade Zenith SGPS, criada em maio de 2004 e presidida por João Rendeiro, que reclama uma dívida de 31,8 milhões de euros junto do BPP, viu ser reconhecido pela mesma comissão um montante superior em mais de 3 milhões de euros ao que era pedido, ascendendo a um total ligeiramente superior a 35 milhões de euros.»
Que aborrecimento: por que insistem em que as notícias tenham mais do que título - e, vá lá, para os grandes acontecimentos, subtítulo? Seria mais fácil comentar sem errar...


e serão só as crianças, senhor?!


O Público titula que "Crianças comem quatro vezes mais sal que recomendações". Gaita! Por cada quatro doses de sal que ingere, cada criança, em média, só engole uma dose de recomendações. É pouco, muito pouco. Fazia-lhes bem tomar recomendações em dose reforçada.
Mas isso, afinal, talvez não se aplique só às crianças.

(O que acima se diz é sobre a escrita do português. Sobre saúde, lê-se na mesma notícia: «As crianças portuguesas ingerem quatro vezes mais sal por dia do que a dose indicada pela Organização Mundial de Saúde, facto que pode retirar-lhes dez anos da esperança média de vida actual, estima a Sociedade Portuguesa de Hipertensão.» )

16.2.11

um governador com a prudência mal colocada


Se Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, fosse tão cauteloso a falar da economia portuguesa como a fazer nevoeiro sobre o seu passado político, estaríamos melhor.
O Excelentíssimo Governador do Banco de Portugal diz, apesar de isso ser tecnicamente errado, que Portugal já está em recessão económica. Pode até ser que o futuro venha a ir por aí, ninguém se atreva a pôr as mãos no fogo pelo contrário. Mas isso é, por agora, uma falsidade: A definição técnica de recessão mais consensual entre os economistas é a de um crescimento negativo do produto em dois trimestres consecutivos. Não estamos nessa situação, o Excelentíssimo Governador devia saber isso e devia escusar-se a falar com o rigor das "bocas" de caixas de comentários de jornais e blogues. Quem complique a vida ao país, designadamente nos mercados financeiros sempre prontos a ganhar dinheiro à nossa custa e das más notícias, já há que baste.
Até porque o Dr. Carlos Costa é, para assuntos de que cuida mais, uma promessa de prudência. No sítio oficial do Banco de Portugal, onde cabe a apresentação do Governador, o currículo oficial reza que foi "Chefe de Gabinete do Comissário Europeu (1993-1999)". "Do Comissário Europeu", só com data e sem o nome do dito cujo? Será que Carlos Costa, que foi apresentado ao público como uma inteligência independente e sem mãos sujas em movimentações partidárias, tem vergonha de dizer de qual Comissário Europeu foi impedido? Sabemos, por que nos têm contado, que o Dr. Carlos Costa cultiva essa reserva, e que só empurrado e em voz baixa confessa que não foi de António Vitorino que foi chefe de gabinete. É como aquele tipo que diz que namora a Laura, sempre à espera que pensem que ele fala de Laura Pausini, quando ele afinal namora mesmo é a Laura Silva de Escafandros-de-Baixo. Terá o senhor Governador mais vergonha da sua ligação a João de Deus Pinheiro, esse ex-ministro de Cavaco que foi membro da Comissão Europeia, do que vergonha de prejudicar o país com a sua forma lassa de falar de coisas sérias?

a equação da esquerda

09:11

Estava ali a tomar café ao balcão e um canal de televisão anunciava para hoje um programa sobre Mário Soares, "Soares é fixe!", palavra de ordem de uma campanha presidencial. E fiquei a pensar que a minha equação da esquerda continua a ser o conjunto das fases da vida desse homem: resistências várias, governação, voltar a querer mudar o mundo no sentido de mais justiça e mais liberdade. Nunca fui aquilo que pelas bandas do PS se chama um "soarista" (bem pelo contrário), mas Soares representa, por atacado, todos os ingredientes que a esquerda precisa para a sua receita. E precisa de todos os ingredientes ao mesmo tempo, não uma parte do cozinhado de cada vez, consoante a época. (Isso é, aliás, o que há a criticar a Soares: teve fases, foi muito dominado pelo objectivo estratégico central em cada momento, às vezes esquecendo o que não estava no ecrã principal em dada altura.) É essa esquerda plural, crítica e transformadora mas que ousa governar, que nos faz falta. É esse o meu critério para escolher os meus espaços: a dinâmica da mudança na ecologia da diversidade.

15.2.11

o Bloco não pode falhar o carnaval

14:21

Tendo sido agendada a discussão da moção de censura do BE para o dia 10 de Março, esse partido terá de fazer entrega do texto o mais tardar até ao dia 7, terça-feira de Carnaval.

Terá sido por causa disso que o líder parlamentar do Bloco tentou que se esquecessem de que havia uma moção de censura para agendar? Como escreve o Público: «Os partidos já tinham feito todas as suas propostas de agendamento de projectos e o Bloco não tinha referido a moção. Até que foi o próprio ministro dos Assuntos Paramentares, Jorge Lacão, a lembrar os bloquistas que não tinham agendado. José Manuel Pureza, líder parlamentar do BE, sabe o PÚBLICO, justificou que, afinal, a data da moção estaria adquirida.»
Pois. É como eu ir a tribunal e não apresentar peças processuais "a pensar que já toda a gente sabia".

Vale a pena lembrar:

Atenta no direito da prova e verás, o sistema produzindo a sua diferença,
que nem todos os factos do mundo são tramitados nesta instância,
que nem todas as leis dos reinos vigentes aprovisionam os tribunais competentes
e que, por isso, não é inútil apresentar em juízo coisas que toda a gente sabe,
pois verdades correntes nos céus e na terra que nunca foram reduzidas a peças processuais
alimentam continuamente os depósitos de súbditos inimigos.

(Trata-se de uns versos de o processo.)

"Que Parva que Sou" e "A formiga no carreiro"

10:53


A canção "Que Parva que Sou", dos Deolinda, fala de problemas que existem. Alguns tentam elevá-la a bandeira de uma revolta, outros tentam desvalorizar o objecto, outros até fazem hermenêuticas rebuscadas da letra para lhe encontrarem portas por onde possa entrar algum antídoto. Parece que foi o caso de Maria de Lurdes Rodrigues, o que, a ser verdade, não lhe fica bem. Outros, para quem a arte é um tijolo, "reescrevem" a canção para se colarem com banalidades ao êxito que o seu saber-fazer não sabe. Queria aqui deixar umas breves notas sobre o episódio.
Primeiro, a canção é de intervenção, de protesto. E muito bem, porque fala de realidades obscenas que existem neste nosso país. Não é um rigoroso tratado de sociologia, mas também não era para ser.
Segundo, ainda bem que há quem proteste e denuncie. Também por aí passa a arte, também a música. Em todo o mundo. Isto aqui não é o Irão, ainda bem.
Terceiro, é errado tentar ignorar, muito menos menos menosprezar, estes sinais de descontentamento e revolta. Antes de ouvir a rua é melhor ouvir a música. Ser surdo é uma grave deficiência política, sempre. E costuma dar mau resultado.
Quarto, tentar arrebanhar partidariamente ou sectariamente uma canção de protesto é muito canhestro. Há quem nunca resista à tentação de tentar encerrar o social dentro do político-partidário, o que é pena.
Quinto, se a canção dos Deolinda acelerar a consciência do cancro que é a precariedade, e estimular organizações responsáveis a fazerem propostas viáveis e corajosas para a combater, a intervenção da canção valeu a pena. Não terá valido a pena se for apenas ocasião para o teatro das carpideiras do costume, que são bons a batar palmas nos coliseus mas muito primários a montar a tenda no quintal que não lhes pertence.
Finalmente: ouçam música, pensem se ela vos der que pensar, mexam-se se ela vos der genica para isso - mas, por favor, se forem deputados ou políticos activos, não tentem reconduzir tudo à retórica habitual. Nem contra, nem a favor, nem a assobiar para o lado. É que se arriscam a fazer figura de quem, ouvindo "A formiga no carreiro", diz que se trata de um hino da união zoófila.




12.2.11

Rachmaninov tinha mãos grandes, este tipo tem mãos pequenas, mas diz que é a única coisa que tem em tamanho small


Aposto que este "pianista" não apresentaria uma moção de censura só para fazer um número de circunstância.





paisagens


As esculturas submarinas de Jason de Caires Taylor criam uma paisagem original, já que as suas obras se tornam recifes artificiais, atraindo a vida marinha e entrando no jogo de mudanças do que está exposto às influências do meio. É beleza que deixo no fim de semana dos passantes.

Jason de Caires Taylor, A evolução silenciosa,
400 figuras em tamanho real, a 9 metros de profundidade, Isla Mujeres, México

Jason de Caires Taylor, A evolução silenciosa, detalhe

Jason de Caires Taylor, A evolução silenciosa, detalhe

Jason de Caires Taylor, Vicissitudes
26 figuras em tamanho real, a 5 metros de profundidade, Granada, Índias Ocidentais

Jason de Caires Taylor, O correspondente perdido
a 5 metros de profundidade, Granada, Índias Ocidentais


11.2.11

estas não são as ruínas do bloco de esquerda

é possível escrever em blogues e contudo não saber ler?


Uma vez que há pessoas que não sabem ler, sublinho que nunca escrevi que os partidos da oposição não podem apresentar moções de censura por causa da dívida soberana. Escrevi que fazer o anúncio com um mês de antecedência é, só por si, um acto irresponsável. E acrescento que todos os partidos, em democracia, devem fazer tudo por aquilo que acham bom para o país. O que é curioso é que se possa conceber que o BE e o PSD (também o CDS e o PCP?) tenham a mesma opinião acerca do que é bom para o país.

a beleza da dignidade


Noticia o Público: «O retrato de uma mulher afegã, mutilada no nariz, valeu ao repórter fotográfico sul-africano Jodi Beiber o grande prémio do concurso internacional World Press Photo 2010. O vencedor foi hoje anunciado em Amesterdão. A fotografia, que foi capa da revista “Time” a 1 de Agosto de 2010, revela uma jovem afegã de 18 anos, Bibi Aisha, a quem o marido cortou o nariz e as orelhas por ela ter voltado para a família, depois de o acusar de maus tratos.»

10.2.11

a fuga para o Egipto

21:33

Bloco de Esquerda vai avançar com moção de censura.

A estratégia presidencial de Louçã meteu o Bloco, mais o resto das esquerdas, no beco da reeleição de Cavaco Silva. O grande profeta tinha que tirar da cartola qualquer coisa que permitisse o velho expediente da fuga em frente, a ver se não se fala mais dessa desastrosa estratégia. Dias depois de ter explicado que isso era fazer o frete à direita, o BE anuncia uma moção de censura, com um mês de antecedência. Nada podia ser mais trágico para o financiamento da República nos mercados internacionais, e respectivas consequências económicas, do que um mês de fervura lenta. Mas isso não interessa nada a Louçã. O batido dirigente trotskista já só pensa numas merecidas (pensa ele) férias num país em estado de insurreição. O Egipto, por exemplo. Vamos ver se o BE tinha razão e o PSD agradece.

[Adenda: Já o PSD parece estar a pedir por favor que o pressionem: um grande partido esponja, que toma a forma que os apertões lhe imprimirem.]

(Na imagem: Jesus, Maria e José fogem para o Egipto.)

o problema do debate sobre a despesa pública em Portugal é que as contas são sempre as de merceeiro e não as das grandes opções políticas


Daniel Oliveira a explicar bem explicadinho por qual razão as vistas curtas saem muito caro a todos nós. O passe de Coelho. Leitura que recomendo vivamente.

quando as instituições se põem a pensar (ou um certo mea culpa do FMI)


O FMI tem um serviço para fazer avaliações independentes do funcionamento do próprio FMI. Ontem, esse serviço publicou um relatório acerca das razões pelas quais a organização não antecipou apropriadamente a crise financeira e económica em que estamos mergulhados. (Está aqui.)
Dominique Strauss-Kahn, o patrão, já admitiu as boas razões do relatório e enuncia em que sentido as coisas poderão caminhar para acolher as recomedações.
Não tendo tido tempo sequer para dar uma vista de olhos ao relatório, li o editorial de ontem do Finantial Times sobre o assunto. Um dos aspectos aí realçados é o das "falhas intelectuais" do funcionamento do FMI como causa da "cegueira". Essas falhas intelectuais consistem, essencialmente, em dogmatismo e ortodoxia. Dito de forma diplomática, como o FT prefere, claro. Mas não deixa de ficar claro que nessas "falhas intelectuais" consta o facto de muitos dos analistas do Fundo estarem "agarrados" por um único paradigma, ignorarem a contaminação que as "aventuras" financeiras poderiam trazer ao resto da economia, e serem "convidados" a seguir o rebanho: os que viam as coisas de forma diferente eram sujeitos aos "incentivos" apropriados para baixarem a voz.
O FMI estuda porque falhou como instituição, ao não ver o que aí vinha. Em Portugal, quando os reguladores falham, há uma chusma de vozes baratas que pensam calar a realidade tentando culpar um só homem pela fracasso do sistema. Lembram-se do que falo: aquela ideia de culpar Vítor Constâncio por não ter comprado uma bola de cristal suficientemente esperta. Quando, no máximo, ele era a expressão de um sistema de pensamento pouco habituado às duras espertezas do capitalismo corrente. O que não o desculpa, intelectualmente - mas não tem nada a ver com incompetência profissional. Mas obriga a ver o seu exercício no quadro dos muitos "companheiros de estrada" que, pensando o mesmo que ele antes da borrasca se declarar, depois o quiseram sacrificar para tentar esconder a sua dívida intelectual e política para com o país.

9.2.11

confirma-se que passou à história aquele luxo de termos um presidente de todos os portugueses

descoberto o segredo da crise da dívida soberana

rodriguinhos ajeitam as cadeiras

trabalhos temporários

09:52
Renee Rouillier, Lost Innocence

Passos Coelho queria o FMI. O FMI oferecia os "estudos da situação" que ele não tem tempo para fazer desde que se meteu a presidente do PSD, oferecia a desculpa política para a política que PPC quer fazer mas não tem coragem de confessar. Afinal, o FMI se calhar já não vem - e os únicos que ainda defendem que venha são os que se esqueceram de olhar para os resultados que tal coisa deu na Grécia e na Irlanda. O FMI se calhar já não vem, porque o governo apostou em tudo o que podia apostar, ao mesmo tempo na venda de dívida, na economia que exporta e na política europeia (engrossando a corrente dos que apressam modificações nos mecanismos de defesa do euro). É isso que é governar: definir objectivos, traçar caminhos - e percorrê-los.
O PSD demorou mais tempo do que os próprios "mercados" a perceber que Portugal não se tinha rendido. Mas, agora que percebeu, "caiu na real": se a oposição deixar o governo trabalhar mais uns meses, a governação vai dar resultado e o país não se afundará no cabo das tormentas. O cenário de uma crise ultrapassada enegrece os sonhos da oposição. É por isso que o PSD, de repente, procura todas as maneiras possíveis para meter água para dentro do barco. Já que Cavaco só se ajuda a si próprio, resta a moção de censura. É preciso evitar que Sócrates governe, custe o que custar - assim pensa Pedro Coelho. Isto é o essencial do que se está a passar.
Que o PSD procure no sector esquerdo do Parlamento quem esteja disposto a um trabalho temporário necessário ao seu plano; que haja uns partidos da esquerda revolucionária dispostos a gastarem do seu próprio papel timbrado para escrever a moção de censura do PSD, isso são pormenores. E nem são propriamente surpreendentes. O PSD sonhou com o FMI. O PCP sonhou com o PSD. Com tanto sonho trocado ainda acabam com uma valente dor de corno ao acordar. Está para chegar o dia da verdade da coligação negativa.

8.2.11

os profetas do mercado livre devem estar muito zangados


O carregador único para telemóveis está a chegar à Europa. «Há vários anos que a Comissão Europeia tem vindo a defender a ideia simples de um carregador comum compatível com telemóveis de todas as marcas. Finalmente isso está prestes a transformar-se em realidade, graças a um acordo de cooperação selado entre 14 fabricantes mundiais de telemóveis e a Comissão.»

Então, isto não vai diminuir a minha liberdade de escolha como consumidor? Vou ser obrigado a ter um telemóvel com certas tripas iguais às do telemóvel do meu vizinho? É a ditadura, credo, é a ditadura. Europeia, ainda por cima...

mensagem numa garrafa aos que pensam que o pessoal "da rede" está necessariamente alienado


Comentário de Vitorino Ramos @ Chemoton: «Conclusion: When you shut-down the Internet, people will click on real physical streets...»


7.2.11

The Force | dedicado a um blogue muiiiiiito poderoso que por aí anda


Uma nova epistemologia do fenómeno: procurem o comando a distância.



cisne negro


Black Swan, de Darren Aronofsky, com Natalie Portman, Mila Kunis e Vincent Cassel. Uma história banal cheia de truques esquisitos a tentar convencer-nos que mais tarde chegará um vislumbre de grandeza - mas sem nunca lá chegar. Podia ser sobre dança (ballet), mas não é: o filme não consegue transmitir coisa alguma acerca da arte de dançar vivências diferentes (cisne branco, cisne negro). Finalmente, não passa da história de uma menina pouco empenhada em fazer certos "trabalhos de casa" receitados pelo professor, acabando por deixar a colegas oportunistas grande parte das manobras que lhe estavam prescritas como exercício "espiritual"...


(Adenda: A ideia de que este filme se aproxima do modo de Cronenberg tratar a questão o corpo... esqueçam: nem os seus filmes mais artesanais eram tão superficiais nessa matéria. Cronenberg é um filósofo-realizador.)

coisas sérias


maquiavel de ceroulas

10:51

Marcelo Rebelo de Sousa considera que o Governo “está morto”
.
Citando: «Marcelo Rebelo de Sousa considera que este Governo socialista “está morto” e nas mãos do PSD. E se o PCP cumprir com a sua palavra sobre um possível apoio ao PSD numa moção de censura, diz o professor e comentador político que Passos Coelho pode decidir quando é que o executivo de Sócrates deve cair.»
Agora, lendo: MRS, como muitos PSD, não quer, de modo nenhum, que seja PPC a aproveitar a janela de oportunidade para chegar ao poder. Têm, para isso, de fechar os caminhos ao ex-líder da Jota. O primeiro caminho, Belém, está controlado: Cavaco nunca vai provocar uma crise para entregar o país a Passos Coelho, que o cavaquistão detesta. Cavaco esperará até que o PSD esteja em boas mãos. O outro caminho é uma moção de censura no Parlamento, onde o PSD precisa dos votos da esquerda da esquerda para derrubar o governo. Alertar, com antecedência, para o conluio entre a esquerda revolucionária e o PSD nesse desiderato, dificulta politicamente a tarefa: denuncia a conivência de Jerónimo com a direita, aponta a dependência do PSD face aos comunistas. Quanto mais se anunciar a materialização dessa "aliança", mais escrutinada ela será e mais custará concretizá-la. É isso que está a tentar fazer Marcelo. Ele quer mais tempo para que os "seus" façam a limpeza da casa - e para que o PS leve a cruz até ao calvário, outra conveniência táctica que PPC não pode perceber, apressado como está a tentar obstar ao sacrifício de mais um magnífico presidente do PSD.

o disparate é livre


Que o disparate é livre é algo que a ex-secretária de estado da educação ilustra com propriedade.
Ana Benavente: Autoritarismo do PS de Sócrates ultrapassa "centralismo democrático" de Lenine.
Pena é, apenas, que a ignorância histórica do que significam os conceitos também seja livre. Política amassada no ressabiamento dá nisto. E parece que começa a fazer escola. O que não é, evidentemente, o debate sério que é preciso fazer sobre o futuro do país e os seus caminhos.

5.2.11

capitalismos

15:00

Nicolau Santos, no suplemento Economia da edição de hoje do Expresso:
Em Navarra, um tribunal decidiu ser suficiente que um cidadão entregue ao banco o imóvel que não consegue pagar para saldar a dívida que tem com a instituição financeira. (...) A lei espanhola, à semelhança da portuguesa, prevê que sempre que a execução da hipoteca não garanta o valor em dívida, o banco exija o diferencial, penhorando outros bens ou parte do salário. O imóvel tinha sido inicialmente avaliado em €78 mil, mas foi arrematado em leilão por €48 mil. O BBVA queria que José Antonio Gil, 47 anos, empregado de limpeza, desse outros bens para pagar o diferencial. O juiz de primeira instância considerou que, uma vez que foi o banco a avaliar inicialmente o imóvel em €78 mil, é dele a responsabilidade sobre a perda de valor. Ou seja, considerou-se que é suficiente a devolução da propriedade para cancelar a dívida contraída com o banco, como acontece nos Estados Unidos mas não na generalidade dos países europeus. No Velho Continente, a relação entre clientes e bancos está claramente desequilibrada a favor dos segundos. Está na hora de quebrar esse pacto leonino.(...)
O texto fala por si. Um único comentário: aqueles que tendem a aceitar tudo o que se passa neste capitalismo desigual como se os mecanismos de espoliação fossem inevitáveis, e como se qualquer tentativa de corrigir iniquidades fosse uma perigosa tentação revolucionaria, deveriam meditar nestes casos concretos e tentar perceber se isto faz parte da "liberdade de empreender" que se diz associada ao capitalismo. Essa meditação talvez possa fazer luz sobre uma ideia simples: dentro do capitalismo há muitas possibilidades; não é preciso ser um grande revolucionário para querer eliminar os abusos dos tubarões à custa de todos nós.

as revoluções amargas

11:00

Há quem ache um exagero comparar o futuro possível do Egipto com a queda do Xá e a entrada de Khomeini no Irão, em 1979.
Há que ter esperança nas diferenças, sim; mas as diferenças que queremos que existam nem sempre nos fazem esse gosto.
Julgo que, pelo menos numa coisa, a analogia é válida: o facto de alguns serem capazes de ver os perigos que estão no bojo da actual situação, sendo bom, não é suficiente para conter esses mesmos perigos. Isso aconteceu em 1979 e pode voltar a verificar-se.
Vale a pena (re)ler, a propósito, Persepolis, a magnífica banda desenhada de Marjane Satrapi.
Entretanto, para quem compreenda o francês, é interessante lembrar (com o vídeo abaixo) como sectores da esquerda marxista iraniana se aperceberam do perigo e o denunciaram ("nem por Deus, nem contra Deus", manifestação poucos dias antes da entrada de Khomeini). Demasiado tarde?

 TF1, 21/01/1979, jornal das 20h

4.2.11

As dívidas devem ser honradas, excepto quando o dinheiro é devido aos trabalhadores


O post de Dean Baker começa mais ou menos assim:
As dívidas devem ser honradas, excepto quando o dinheiro é devido aos trabalhadores. Esta parece ser a lição que os líderes da nossa nação estão a tentar enfiar-nos na cabeça. Segundo o New York Times, membros do Congresso estão nos bastidores a cozinhar uma lei que permita aos Estados declarar falência. De acordo com o artigo, o objectivo principal da falência dos Estados é permitir-lhes que entrem em incumprimento quanto às suas obrigações relativas às pensões. Isto significa que os Estados poderão dizer aos trabalhadores, inclusive aos já reformados, que estão com azar. Professores, agentes da polícia de trânsito e outros funcionários, alguns dos quais trabalharam décadas para o governo, serão informados que o seu contrato já não significa nada. Que já não irão receber as pensões que esperavam.
Vale a pena ler o texto na íntegra. Vem no Real-World Economics Review Blog, no post Debts should be honored, except when the money is owed to working people.

Fica à reflexão de quantos achem que merece o esforço.

pode ser preciso pensar radicalmente


O filósofo esloveno Slavoj Žižek fala - e uma animação ilustra-o.

Um convite a pensar radicalmente (ir à raiz das coisas).



3.2.11

a maléfica tendência de Sócrates para o despesismo alastra por todo o continente


Nem os alemães resistem.



Túnel subaquático vai ligar Dinamarca e Alemanha em 2020.
«A Europa ocidental e a Escandinávia vão passar a estar ligadas por um túnel subaquático dentro de nove anos. A estrutura, que vai ligar a Dinamarca e a Alemanha ao longo de 18 quilómetros, vai encurtar o tempo de viagem entre os dois países em uma hora e meia. O orçamento para a construção do túnel ainda não está fechado mas estima-se que arranque nos 4,2 mil milhões de euros.»
Mas que interesse tem menos hora e meia? A nado, vão a nado, que faz bem à saúde. Ai, que já a formiga tem catarro. Esta mania das obras alastra, alastra. É impressionante como ainda não aprenderam com as lições que o PSD tem dado a Sócrates. Terá Passos Coelho de ir explicar aos seus companheiros do Norte que assim não?

White Stripes | this is the end, my friend

A casta, os carenciados e os desmancha-prazeres do ensino público

16:44

Helena Matos publica hoje no Público um artigo de página inteira sobre a escola privada e a escola pública, a defender as escolas privadas com contratos de associação (com o título que dei a este apontamento). Todo o artigo assenta numa falácia básica. Terei todo o gosto em explicar qual, se o Público me der o mesmo espaço e o mesmo destaque. Entretanto, basicamente, e para irem pensando nisso se quiserem, direi desde já que essa falácia consiste em pressupor que as decisões colectivas são meros somatórios de decisões individuais. Adiante, que nos vamos por ora ficar por pormenores.
Há duas frases de Helena Matos que merecem destaque numa galeria de horrores do pensamento.
Primeira. «Eles [os pais cujos filhos frequentam as escolas com contrato de associação] vieram dizer o óbvio: não existe ensino gratuito. O custo real por aluno numa escola pública dita gratuita é provavelmente dos mais elevados do mercado.» Deixando de lado os pressupostos contabilísticos contidos na afirmação, e que não me parecem confirmados pelo números que têm vindo a lume, cabe notar que a frase é um pouco requintado exercício de desonestidade discursiva. Confunde, por um lado, ensino que é fornecido de forma gratuita aos que a ele acedem, com, por outro lado, o facto de o funcionamento do sistema educativo ser pago por todos nós, através dos impostos. Tentar passar essa confusão a ver se ninguém topa - é puro desprezo pelo leitor. Ou Helena Matos julga que alguém está convencido de que o sistema educativo não custa dinheiro?
Segunda. «O Estado português impõe vários anos de escolaridade obrigatória. Ou seja, impõe uma despesa que em boa parte os contribuintes suportam através dos seus impostos.» A escolaridade obrigatória é uma imposição desse papão que é o Estado: o costumeiro discurso, para anarquistas de diversas cores, que diabolizam todas as obrigações que uma sociedade civilizada nos impõe. Mais: a escolaridade obrigatória é, afinal, uma despesa. Não é uma condição de promoção da igualdade de oportunidades, já vimos: é uma imposição. E o que vale? Que é uma despesa.
Haveria mais pérolas a destacar, mas nem vale a pena: a tese é que as famílias é que sabem. É conversa velha: tudo o que seja organização da comunidade para prover as necessidades comuns, é mau. Tudo o que seja "a racionalidade imanente dos agentes maximizando o seu bem próprio" é que funciona bem. Nada lhe interessa que esteja mais do que demonstrado que o mundo real não funciona assim, que isso são estórias da carochinha.
Mas até as estórias da carochinha servem quando se chega ao ponto em que "vale tudo" na apologia de certos interesses.

revoluções árabes

14:49
~bucz, Glosoli

Costuma dizer-se "depositar esperanças", não se costuma dizer "depositar medos". Não obstante... No caso das revoltas que grassam no Médio Oriente, acho que faz sentido dizer que elas prometem revoluções - e que nessas revoluções tanto depositamos esperanças como depositamos medos.
Não me parece particularmente instrutivo comparar outras revoluções com o que está em curso. Mesmo que alguns se encostem a tudo que prometa fazer esquecer como as suas revoluções deram para o torto. "Torto" é ditadura e pobreza. O exercício que me parece valer a pena é procurar bem onde há democracias em países de forte influência islâmica que conseguem resistir à pulsão totalitária do respectivo fundamentalismo.
Para não perdoarmos a irresponsável cumplicidade do "Ocidente" com as tiranias.
Para sabermos distinguir os diferentes estádios históricos por que passam diferentes religiões, em lugar de ensacarmos tudo junto.
Para não nos inebriarmos demasiado com o perigo.

2.2.11

um pacto social tão perto e tão longe

20:19

Para o crescimento, o emprego e a garantia das pensões.

Lá é possível.

Gobierno y agentes sociales rubrican el Pacto Social y Económico Para el crecimiento, el empleo y la garantía de las pensiones. El Gobierno remarca el carácter colectivo de la negociación, mientras que los sindicatos aseguran que el acuerdo "ha merecido la pena".
Ya está firmado el Pacto Social y Económico negociado y acordado entre el Gobierno y los agentes sociales. A la mesa, el presidente del Gobierno, José Luis Rodríguez Zapatero; el ministro de Trabajo, Valeriano Gómez; los secretarios generales de UGT y CCOO, Cándido Méndez e Ignacio Fernández Toxo; el presidente de la patronal, Juan Rossell; y el presidente de CEPYME, Jesús María Terciado.

Espanha será assim tão longe?


filet mignon

o perscrutador na sua rede

crónicas avulsas de vidas que por aí andam

1.2.11

egipto


em espanha, no meio da crise, um pacto social com todos


Gobierno, sindicatos y patronal cierran el gran acuerdo social contra la crisis. Prossegue o El País:
El pacto social ya es una realidad. Al filo de la medianoche, el Gobierno, los sindicatos y los empresarios han cerrado definitivamente el acuerdo que todos tocaban con los dedos desde que la semana pasada hubo fumata blanca sobre la reforma de pensiones y la negociación colectiva. Cerraban así en una reunión de seis horas un mes de reuniones maratonianas. Anoche se aunaron posturas en políticas activas de empleo y se afinaron las declaraciones que aspiran a marcar el diseño futuro de la política industrial y la energética. Tomaba cuerpo así un pacto entre Gobierno y agentes sociales, que aspira ahora a contar con el respaldo de todo el arco parlamentario. Con él, los protagonistas de esta entente quieren lanzar un mensaje de unión contra la crisis a los mercados y al exterior.
Ainda não conheço o conteúdo, ainda não se sabe se todas as partes assinarão (mas todas as partes negociaram).

A crise não pode parar a concertação social. Pelo contrário, essa concertação é mais necessária do que nunca. E não pode ser principalmente a pensar nos despedimentos, mas principalmente a pensar em mais emprego, na justa distribuição do esforço e da recompensa, em cortar no acessório e não no essencial, na equidade.
Se os espanhóis podem, nós não podemos? Ou estamos condenados aos teatros do costume, onde os que podem se acantonam nas suas trincheiras e fazem de conta que isto não é sério, onde valem mais os que berram com mais manha e não os que mais precisam?

mas afinal para que servem os partidos políticos?

16:30


Agora que o PS marcou o seu congresso e a eleição do secretário-geral, agitam-se as hostes do partido do governo. Os mais ferrenhos pró-Sócrates olham desconfiados por cima do ombro para verificar se algum atrevido lança alguma pedra que fira o consenso directivo. (Além dos brandos atrevidos do costume, que andam por lá há anos a sugerir diferenças de monta sem consequências.) Os críticos-mais-críticos-não-há querem que o PS vigie o governo, controle o governo, seja autónomo do governo. (Não estou sequer a falar dos "críticos" que só criticam quando perdem o emprego-de-nomeação, estou a falar dos que coerentemente se mantêm na barricada da crítica o tempo todo, honra lhes seja feita.) A preocupação mais genuína dos mais genuínos dos críticos é com o futuro do PS: temem que o partido se enterre com o final deste ciclo de governação, querem que se antecipe o futuro e se prepare já a vaga pós-Sócrates. Renovação, clama-se.
Postas as coisas nestes termos, acho que vale a pena perguntar para que servem, afinal, os partidos políticos. Mais precisamente, interessa-me agora a questão: para que serve um partido que está no governo?
Pois, a meu ver, um partido que está no governo serve, pois, para isso: para governar. O PS, enquanto for o partido responsável pelo governo, tem de se empenhar na governação. Apoiar calado, sem discordar, sem propor? Não, nada disso! Antes, indo ao debate, propondo e escrutinando alternativas, pondo dedos nas feridas que haja para tratar, dando o combate de ideias que é sempre necessário para fazer com que o concreto aconteça. Mas, tudo isso, fazendo parte do esforço de governação democrática, atenta ao país, interagindo com o país. Foi para isso que o PS apresentou candidaturas nas eleições legislativas, tem deputados, tem ministros. É isso que o PS deve ao país enquanto estiver no governo. O partido que suporta no parlamento o governo não existe para "vigiar". Existe para assumir, em inteira liberdade, a responsabilidade que lhe cabe. É isso que é necessário ao país: o país não precisa nada de um partido que queira estar ao mesmo tempo no governo e na oposição (como já aconteceu, por exemplo quando Cavaco Silva tomou conta do PSD e começou a fazer oposição ao governo onde estava o seu próprio partido).
Não obstante, não terão razão aqueles que entendem que, "por este caminho", o PS vai ficar debilitado quando cair o governo e perder as eleições? Têm toda a razão, é isso mesmo que vai acontecer.
Outra questão é saber se isso pode e/ou deve ser evitado. Ora, aí, agarrem-se às cadeiras que não vos vou agradar, é que eu não percebo a preocupação. Claro que sim: a governação gasta, desgasta, desgosta. Um partido de governo tem de beber o cálice até ao fim. Extrair todas as consequências das suas apostas. Levar o teste das suas políticas até ao fim. Usar todos os recursos da imaginação e da energia ao serviço da coisa pública. Mais cedo ou mais tarde o mundo muda, as pessoas cansam-se das caras que "lá estão", surgem novas ideias e o desejo de as experimentar... e é a tal alternância, que pode tardar mas não falha. Nessa altura, novo ciclo: pensar outra vez, avaliar os méritos e os deméritos das ideias correntes e da forma como se tentou concretizá-las, estudar outros caminhos, começar a construir outras propostas. E, passados uns anos, voltar a lutar por outra oportunidade. É assim esta democracia em que vivemos. Sem angústias, façam o favor.
Aliás, se o próximo congresso do PS escolher outro secretário-geral, a consequência deve ser a indicação ao PR de que o partido apoia então outra personalidade para PM. É isso que corresponde ao dever do PS como partido de governo, aqui e agora? Não me parece. O que, a meu ver, não deve impedir que o Partido Socialista aproveite o seu congresso para analisar a sua linha e as suas práticas - mas sem esquecer as suas responsabilidades. Se foi triste ver o PR a comportar-se durante a campanha da reeleição como se esquecido da sua condição, não façam agora o país suportar a repetição do erro com o (partido do) governo.
É que se um partido pode esquecer essa condição, então não percebo mesmo para que servem os partidos políticos.

constitucionalidades


O mecanismo do controlo da constitucionalidade como atalho para a luta política tem muitos usos. Este é um deles. Andam por aí outros.