Renee Rouillier, Lost Innocence
Passos Coelho queria o FMI. O FMI oferecia os "estudos da situação" que ele não tem tempo para fazer desde que se meteu a presidente do PSD, oferecia a desculpa política para a política que PPC quer fazer mas não tem coragem de confessar. Afinal, o FMI se calhar já não vem - e os únicos que ainda defendem que venha são os que se esqueceram de olhar para os resultados que tal coisa deu na Grécia e na Irlanda. O FMI se calhar já não vem, porque o governo apostou em tudo o que podia apostar, ao mesmo tempo na venda de dívida, na economia que exporta e na política europeia (engrossando a corrente dos que apressam modificações nos mecanismos de defesa do euro). É isso que é governar: definir objectivos, traçar caminhos - e percorrê-los.
O PSD demorou mais tempo do que os próprios "mercados" a perceber que Portugal não se tinha rendido. Mas, agora que percebeu, "caiu na real": se a oposição deixar o governo trabalhar mais uns meses, a governação vai dar resultado e o país não se afundará no cabo das tormentas. O cenário de uma crise ultrapassada enegrece os sonhos da oposição. É por isso que o PSD, de repente, procura todas as maneiras possíveis para meter água para dentro do barco. Já que Cavaco só se ajuda a si próprio, resta a moção de censura. É preciso evitar que Sócrates governe, custe o que custar - assim pensa Pedro Coelho. Isto é o essencial do que se está a passar.
Que o PSD procure no sector esquerdo do Parlamento quem esteja disposto a um trabalho temporário necessário ao seu plano; que haja uns partidos da esquerda revolucionária dispostos a gastarem do seu próprio papel timbrado para escrever a moção de censura do PSD, isso são pormenores. E nem são propriamente surpreendentes. O PSD sonhou com o FMI. O PCP sonhou com o PSD. Com tanto sonho trocado ainda acabam com uma valente dor de corno ao acordar. Está para chegar o dia da verdade da coligação negativa.