Há uma certa direita liberalóide que faz de conta que é contra o Estado por ser a favor das liberdades de cada um de nós. Episódios recentes nos EUA, aqui comentados e enquadrados pelo João Galamba, mostram que a realidade é bem outra. Essa direita é contra o Estado quando o Estado poderia limitar a "liberdade" dos poderosos, os quais ficam muito mais à vontade quando deixados sozinhos na selva - sozinhos, quer dizer, eles com as armas todas e os demais à mercê. A mesma direita já é muito a favor do Estado quando o Estado se torna a arma principal de espoliação, quando o Estado faz o papel de pivô do ataque às pessoas. Aí, os mesmos que são muitíssimo a favor da "liberdade de empresa", se a empresa vender petróleo ou sabonetes, já são contra a "liberdade de empreender" se o "empreendimento" for de cidadãos a defender os seus direitos.
Isto coloca um desafio renovado às esquerdas que por aí andam: precisamos pensar outra vez no papel das pessoas que se organizam, se auto-governam, se associam, tratam de aumentar a sua autonomia enquanto pessoas-com-solidariedades, não ficam à espera da "revolução final" para melhorar a vida cá por baixo. Sim, claro, tudo resquícios daquilo que os "socialistas científicos" chamarão com desprezo, ainda e ainda, "socialismo utópico".