Nicolau Santos, no suplemento Economia da edição de hoje do Expresso:
Em Navarra, um tribunal decidiu ser suficiente que um cidadão entregue ao banco o imóvel que não consegue pagar para saldar a dívida que tem com a instituição financeira. (...) A lei espanhola, à semelhança da portuguesa, prevê que sempre que a execução da hipoteca não garanta o valor em dívida, o banco exija o diferencial, penhorando outros bens ou parte do salário. O imóvel tinha sido inicialmente avaliado em €78 mil, mas foi arrematado em leilão por €48 mil. O BBVA queria que José Antonio Gil, 47 anos, empregado de limpeza, desse outros bens para pagar o diferencial. O juiz de primeira instância considerou que, uma vez que foi o banco a avaliar inicialmente o imóvel em €78 mil, é dele a responsabilidade sobre a perda de valor. Ou seja, considerou-se que é suficiente a devolução da propriedade para cancelar a dívida contraída com o banco, como acontece nos Estados Unidos mas não na generalidade dos países europeus. No Velho Continente, a relação entre clientes e bancos está claramente desequilibrada a favor dos segundos. Está na hora de quebrar esse pacto leonino.(...)O texto fala por si. Um único comentário: aqueles que tendem a aceitar tudo o que se passa neste capitalismo desigual como se os mecanismos de espoliação fossem inevitáveis, e como se qualquer tentativa de corrigir iniquidades fosse uma perigosa tentação revolucionaria, deveriam meditar nestes casos concretos e tentar perceber se isto faz parte da "liberdade de empreender" que se diz associada ao capitalismo. Essa meditação talvez possa fazer luz sobre uma ideia simples: dentro do capitalismo há muitas possibilidades; não é preciso ser um grande revolucionário para querer eliminar os abusos dos tubarões à custa de todos nós.