8.10.12

a crise do governo.


Leio no Público: A Tecnoforma, uma empresa de que Passos Coelho foi consultor e administrador, dominou por completo, na região Centro, um programa de formação profissional destinado a funcionários das autarquias que era tutelado por Miguel Relvas, então Secretário de Estado da Administração Local.

O jornal acrescenta:
«Os números são esmagadores: só em 2003, 82% do valor das candidaturas aprovadas a empresas privadas na região Centro, no quadro do programa Foral, coube à Tecnoforma. E entre 2002 e 2004, 63% do número de projectos aprovados a privados pelos responsáveis desse programa pertenciam à mesma empresa.
Ao nível do país, no mesmo período, 26% das candidaturas privadas que foram viabilizadas foram também subscritas pela Tecnoforma.
Miguel Relvas era então o responsável político pelo programa, na qualidade de secretário de Estado da Administração Local de Durão Barroso, Paulo Pereira Coelho era o seu gestor na região Centro, Pedro Passos Coelho era consultor da Tecnoforma, João Luís Gonçalves era sócio e administrador da empresa, António Silva era seu director comercial e vereador da Câmara de Mangualde. Em comum todos tinham o facto de terem sido destacados dirigentes da JSD e, parte deles, deputados do PSD.»

A crise do governo é só parte da crise política; a crise política é só parte da crise social. Mas há uma específica crise do governo: por tomarem medidas sem pensar e sem negociar; por mentirem (mentiram para chegar ao governo e continuam, por exemplo quando dizem que o "enorme aumento de impostos" foi para substituir a TSU); por desleixarem a frente da negociação europeia (sem a qual nada de bom se fará); por estarem a aproveitar a boleia da crise para prosseguirem planos ideológicos; pela arrogância com que falam ao povo, parecendo satisfeitos por nos empobrecerem; por serem suficientemente irresponsáveis para fazerem oposição a si próprios na praça pública, em lugar de prepararem lá dentro com suficiente cautela as medidas governativas. E, mais ainda, temos razões para pensar que há por ali gente com demasiado poder que parasitou o bem público para ganhar o lastro que de outro modo não teria para "ir ao pote". Com tudo isto, vem sempre ao espírito a frase do outro acerca do "fraco rei".

(Nota de rodapé. Entretanto, fora do governo há outras crises: o que preocupa João Carlos Espada, no seu artigo de hoje no Público, é especificamente o aumento dos impostos para os rendimentos mais altos. Não o aumento dos impostos em geral, mas o "último escalão". Espada invoca as maravilhas que Reagan e Thatcher fizeram pela economia, que, segundo ele, "restauraram um velho e nobre consenso ocidental". Não sei se Espada também gostaria de acrescentar Pinochet, esse que Thatcher tanto apreciava e que também fez muito pela economia do Chile...)